Saneamento e energia impulsionam o NE

Entre os motores que devem impulsionar a região estão a exploração de gás natural e de petróleo e investimentos em energia eólica e no setor de saneamento.
O crescimento do turismo no Nordeste conta apenas uma parte do desempenho econômico da região, que este ano deve responder por 18,59% do consumo do País. Há outros motores que também estão beneficiando a região nos últimos anos. Segunda região mais populosa do País, com cerca de 55 milhões de habitantes, o Nordeste tem se beneficiado pelo aumento de transferências de renda, pela valorização real (acima da inflação) do salário mínimo, que reverbera em aposentadorias e benefícios sociais, e pelo fortalecimento do mercado de trabalho.
“Qualquer variação na renda, seja a renda do trabalho ou de outras fontes, tem um peso importante no mercado consumidor porque a população é muito grande”, afirma Flávio Ataliba, coordenador do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre).
No Nordeste, cerca de 10 milhões de famílias são beneficiadas pelo Bolsa Família. Por mês, o programa representa injeção de recursos de R$ 6,4 bilhões para a região, calcula Ataliba. No caso das aposentadorias, a antecipação do 13.º salário de aposentados e pensionistas do INSS deve colocar mais R$ 15,76 bilhões nas mãos das famílias nordestinas. “Grande parte da população que recebe tudo isso está na zona rural. São pessoas que vão movimentar o mercado local, e isso amplifica muito a cadeia de negócios que se gera a partir dessa movimentação.”
“Políticas de transferências têm limite tanto do ponto de vista fiscal como de estímulo à participação no mercado de trabalho. O que precisamos é de ganhos de produtividade a partir do crescimento do empreendedorismo, e isso é mais necessário ainda no Nordeste”, acrescenta.
ACIMA DA MÉDIA. Em 2025, a economia do Nordeste deve apresentar crescimento superior ao do Brasil. A consultoria Tendências projeta que a região deve avançar 2,2%, acima do 1,9% esperado para todo o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. “A economia do Nordeste ainda tem um rescaldo do consumo e do mercado de trabalho. Em 2025, deve desacelerar, mas, ainda assim, deve ter um desempenho um pouco acima do Brasil”, afirma Camila Saito, economista e sócia da consultoria Tendências.
Os melhores desempenhos econômicos serão do Norte, ajudado pela indústria extrativa, e do Centro-Oeste, turbinado pela supersafra deste ano. No longo prazo, entre 2027 e 2034, no entanto, a projeção da Tendências é de que o Nordeste registre um crescimento mais acelerado do País, superior à média nacional. O PIB dos Estados da região deve avançar 3,2% ao ano, acima da previsão para o Brasil (2,3%).
Este ano, o PIB da região deve avançar 2,2%, acima do 1,9% esperado para o Brasil, prevê consultoria
Entre os motores que devem puxar o Nordeste, estão a exploração de gás natural e petróleo, investimentos em energia eólica e no setor de saneamento e o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Em 2024, dos 76 parques eólicos instalados no Brasil, 73 estavam no Nordeste, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica). No total, foram investidos só no ano passado cerca de R$ 10 bilhões.
Parques solares também atraíram bilhões de reais em investimentos nos últimos anos – e a tendência é de que continuem impulsionando o desenvolvimento da região. Segundo dados da Absolar, entidade que representa as empresas do setor, há quase 5 mil MW de usinas em construção no Nordeste.
TURISMO ECOLÓGICO. O aumento da renda e do consumo na região tem gerado impactos positivos na vida de trabalhadores como a guia de turismo Dalva Marques. Moradora de Salvador, desde 2018 ela atua com ecoturismo, transformando um antigo hobby em fonte de renda. Com a microempresa Trilhas do Interior, ela organiza roteiros para pequenos grupos interessados em explorar trilhas e cachoeiras no interior da Bahia.
O negócio sofreu impactos durante a pandemia, mas voltou a crescer nos últimos dois anos, impulsionado pela alta na procura por atividades ao ar livre. Segundo Dalva, o número de opções de passeio tem aumentado. Se no início eles se restringiam a cidades próximas da capital, atualmente alcançam os municípios da Chapada Diamantina, a cerca de 200 quilômetros de Salvador.
Hoje, o trabalho com ecoturismo já representa uma parcela relevante da renda da empreendedora, que também trabalha como assistente administrativa durante a semana. Os passeios ainda remuneram outros guias locais, contratados para apoiar e supervisionar as atividades em cada roteiro.
“Quando o mês é movimentado, consigo faturar entre 40% e 60% a mais do que no início do negócio, em 2018, ou mesmo nos anos de retomada pós-pandemia. O trabalho, embora não seja minha única ocupação, tem se mostrado uma aposta bem-sucedida.”
Com o aumento da renda, Dalva conseguiu melhorar sua qualidade de vida. Recentemente, mudou de residência e começou a montar um espaço mais confortável para viver. “Fiquei muito tempo sem ter uma televisão em casa. Isso pode parecer algo pequeno, mas me fazia falta.”
Mais do que as conquistas materiais, ela destaca a importância da melhora na condição financeira para sua saúde mental e desempenho profissional. Com mais dinheiro, ela renegociou dívidas e saiu da lista de inadimplentes. “Também passei a frequentar espaços que antes não eram acessíveis para mim por não ter condições.”
FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20250519/textview