EUA e China fazem acordo parcial e colocam trégua na guerra comercial

EUA e China fazem acordo parcial e colocam trégua na guerra comercial

Acordo têm suspensão de aumento de tarifas em troca de algumas concessões chinesas, principalmente em compras agrícolas

WASHINGTON e NOVA YORK | FINANCIAL TIMES

Os Estados Unidos e a China alcançaram uma trégua em sua guerra comercial na sexta-feira (11), depois que Washington aceitou um acordo limitado que fará com que os EUA suspendam os aumentos de tarifas na próxima semana em troca de algumas concessões chinesas, principalmente em compras agrícolas.

O acordo provisório —descrito pelo presidente Donald Trump como um “acordo substancial na primeira fase”— oferecerá algum alívio à economia global e poderá acalmar os mercados, enervados pela crescente tensão entre os países.

No entanto, ele não representaria a ampla reestruturação das relações econômicas EUA-China que Trump busca desde seus primeiros dias na Casa Branca e na campanha presidencial de 2016.

Autoridades americanas e chinesas devem finalizar o texto do acordo limitado nas próximas cinco semanas, antes de uma possível cúpula entre Trump e Xi Jinping, presidente da China, na reunião dos líderes da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico) no Chile no próximo mês.

Autoridades do governo Trump ofereceram apenas ajustes limitados sobre taxas. Eles concordaram em suspender um aumento tarifário de 25% para 30% sobre US$ 250 bilhões (R$ 1 trilhão) em importações chinesas, que entraria em vigor na terça-feira (15).

No entanto, não revogaram as tarifas existentes sobre mercadorias chinesas que impuseram desde o começo da guerra comercial no início de 2018, incluindo taxas de 15% sobre outros US$ 110 bilhões (R$ 451,5 bilhões) em mercadorias, que entraram em vigor em setembro.

Eles também mantêm acesa a ameaça de 15% de tarifas sobre um novo lote de produtos chineses, incluindo muitos bens de consumo, em 15 de dezembro.

As concessões chinesas também foram relativamente pequenas —essencialmente uma nova embalagem nas promessas feitas ao longo de várias rodadas de negociações.

Pequim concordou com algumas compras adicionais de produtos agrícolas, principalmente soja e carne suína, e novas medidas sobre propriedade intelectual, câmbio e serviços financeiros. Mas não está disposta a oferecer grandes mudanças em seus subsídios industriais e outras práticas que há muito frustram autoridades e empresas americanas. Não parecia haver algum mecanismo para a efetivação do acordo.

Trump alimentou a confiança em uma trégua com uma série de tuítes à medida que as negociações se desenrolavam. “Coisas boas estão acontecendo na China Trade Talk Meeting. Sentimentos mais calorosos do que no passado recente, mais parecidos com os velhos tempos. Vou me encontrar com o vice-premiê hoje. Todos gostariam de ver algo significativo acontecer!”, escreveu ele na sexta de manhã.

As ações americanas subiram ao longo do dia, mas caíram antes do fechamento do pregão em Nova York.

O S&P 500 encerrou o dia em alta de 1,1, depois de subir 1,9% nas negociações da manhã. O rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA para 10 anos subiu 7 pontos básicos, para 1,738%.

“Se você pensar globalmente em três das enormes incertezas políticas deste ano, foram o comércio EUA-China, a política do Fed e o brexit —recebemos notícias amistosas hoje”, disse David Donabedian, diretor de investimentos da CIBC US Private Wealth Management.

Jeffrey Gundlach, executivo-chefe da administradora de fundos DoubleLine Capital, disse que a recuperação das ações foi impulsionada pelas notícias positivas de um acordo entre a UE e o Reino Unido e pelo anúncio do Fed. “O acordo comercial parece ser mais cosmético do que real”, disse Gundlach.

Solicitado a comentar o otimismo nos mercados sobre as perspectivas de um acordo na sexta, o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, respondeu: “O mercado de ações está sempre certo”. Mnuchin disse que, como parte do acordo, os EUA estão considerando rescindir sua declaração de que a China era um manipulador de câmbio.

Mnuchin e Robert Lighthizer, representante comercial dos EUA, negociaram a trégua com Liu He, vice-primeiro-ministro chinês.

Os críticos temem que o acordo seja limitado demais para remover toda a incerteza que paira sobre a relação EUA-China.

“É uma saída de emergência sobre tarifas e uma vitória para os agricultores, mas em termos de benefícios substanciais para a economia dos EUA e de reequilibrar a relação comercial é zero”, disse uma pessoa informada sobre as negociações.

*Reportagem adicional de Peter Wells em Nova York

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

FONTE: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/10/eua-fazem-acordo-comercial-limitado-com-a-china.shtml

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