Sem sinais sobre quando iniciará reduções, Fed mantém juros

Sem sinais sobre quando iniciará reduções, Fed mantém juros

O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, decidiu ontem manter a taxa básica de juros americana no intervalo de 5,25% a 5,5% ao ano pela quinta vez consecutiva. O índice permanece no maior patamar desde 2001. A decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), unânime, confirmou a expectativa do mercado financeiro, que previa a extensão da manutenção dos números, para aguardar indícios que apontem se há de fato uma tendência de queda na inflação.

Em comunicado após a reunião, o Fed sinalizou que as taxas de juros americanas devem terminar o ano entre 4,5% e 4,75% com três cortes neste ano. A autoridade monetária americana não citou, porém, quando as reduções começarão. No início deste ano, Wall Street apostava que o primeiro corte ocorreria na reunião de ontem. Com as sinalizações de que a inflação não daria trégua, o mercado passou a projetar cortes a partir de junho – os mais pessimistas já falam que o afrouxamento da política monetária só ocorrerá no segundo semestre deste ano.

Para 2025, o Fed informou que a previsão é de que haja três reduções das taxas de juros – antes eram quatro.

“A inflação ainda é elevada demais, o progresso contínuo na sua redução não está garantido e o caminho a seguir é incerto”, disse o presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva depois da reunião do Fomc.

Segundo Powell, o comitê não bateu o martelo sobre quando deve começar o corte dos juros americanos. “Tomamos decisões reunião por reunião e hoje (ontem) não tomamos nenhuma decisão sobre reuniões futuras”, disse Powell. De acordo com ele, a decisão de reduzir as taxas vai depender dos dados recebidos, da evolução das perspectivas e do equilíbrio dos riscos. “Não falamos sobre cortar os juros em algum mês específico”, afirmou.

Em fevereiro, a inflação anual dos EUA fechou em 3,2% – em 2022, o índice chegou a 9,1%. A autoridade monetária americana prevê que só voltará a reduzir os juros quando o índice de preços ficar mais próximo de 2% ao ano. Para este ano, o Fed previu uma inflação de 2,6% – na reunião anterior, a taxa era de 2,4%.

“Estamos numa situação em que, se aliviarmos cedo demais, poderemos ver a inflação regressar. E se aliviarmos muito tarde, poderemos ver danos desnecessários ao emprego”, afirmou o presidente do Fed.

Para a autoridade monetária americana, o país tem hoje um mercado de trabalho e uma economia saudáveis, mas uma inflação que continua a arrefecer de forma mais gradual do que o Fed tinha previsto há três meses.

Para o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, as projeções do Fed indicam que os dirigentes enxergam taxas de juros mais elevadas por um período maior de tempo para garantir a convergência da inflação à meta de longo prazo.

Ele disse acreditar que o Fomc deve continuar sendo cauteloso, dependente de dados, tendo em vista as incertezas sobre a evolução da inflação e do mercado de trabalho. “Dado que a atividade econômica e o mercado de trabalho continuam sustentando a economia, o Fed não terá pressa em tomar decisões”, disse.

A precaução do Fed se dá em razão dos dados recentes. Após quatro meses de queda nos preços, este ano trouxe surpresas indesejáveis. Em janeiro, a inflação veio mais forte do que o esperado, em 2,4% – após quedas em setembro (3,4%), em outubro (2,9%) e novembro e dezembro (2,6%). Na ocasião, economistas avaliaram que se tratava de falhas sazonais. No entanto, os dados de fevereiro também subiram para 3,2%.

Os preços de produtos básicos, como alimentação e aluguéis, continuam a ser uma das principais razões da cautela do Fed.

CRESCIMENTO. Também ontem os dirigentes do banco central americano aumentaram as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) real dos Estados Unidos para este ano, 2025 e 2026 na comparação com as estimativas divulgadas após a reunião de política monetária de dezembro.

Para 2024, a mediana das estimativas de crescimento da economia americana subiu de 1,4% para 2,1%. Para 2025, a projeção de avanço do PIB passou de 1,8% para 2,0%. Para 2026, a expectativa foi de 1,9% para 2,0%, e no longo prazo a mediana continuou inalterada, em 1,8%.

Ao mesmo tempo, os dirigentes diminuíram a expectativa para a taxa de desemprego no país em 2024 e 2026. Para 2024, a mediana das estimativas para a taxa de desemprego caiu de 4,1% para 4,0%. Para 2025, a projeção continuou em 4,1%, e, para 2026, a expectativa caiu de 4,1% para 4,0%. No longo prazo, a taxa de desemprego deve permanecer em 4,1%. •

ANDRÉ MARINHO, FRANCINE DE LORENZO,