Pacote de crédito do governo terá foco no pequeno negócio

Pacote de crédito do governo terá foco no pequeno negócio

Equipe formada por integrantes das pastas de Empreendedorismo, Fazenda, Desenvolvimento Social e Trabalho deve finalizar nos próximos dias um pacote de crédito com base em três pilares: uma nova linha voltada a microempresas e MEIs (microempreendedores individuais), com taxas de juros abaixo da média do mercado; renegociação de dívidas do Pronampe, programa de apoio às micro e pequenas empresas; e condições especiais para companhias comandadas por mulheres. O pacote, que entrará em vigor por MP, é considerado prioritário pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um momento de queda da popularidade. O pacote deve contar também com estímulos à criação de um mercado secundário de títulos imobiliários e de hedge (proteção) cambial, além de financiamentos aos beneficiários do Bolsa Família.

O governo corre para anunciar depois da Páscoa um pacote de crédito para os pequenos negócios. Serão três pilares: uma nova linha voltada a microempresas e MEIs (microempreendedores individuais), com taxas de juros abaixo da média do mercado; renegociação de dívidas do Pronampe, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte; e condições especiais para companhias capitaneadas por mulheres.

As propostas, segundo apurou o Estadão, serão tratadas em medida provisória que está em fase de ajustes. Os ministérios do Empreendedorismo, da Fazenda, do Desenvolvimento Social e do Trabalho estão à frente das discussões, que são vistas como prioritárias pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um momento de queda da popularidade. Em outra ação, o governo decidiu prorrogar, pela segunda vez, o Desenrola – programa de renegociação de dívidas lançado pelo governo com foco em pessoas físicas (mais informações na pág. B2).

O pacote deve contar também com estímulos à criação de um mercado secundário de títulos imobiliários e de hedge (proteção) cambial, além de financiamentos aos beneficiários do Bolsa Família. Mas são as iniciativas voltadas aos pequenos negócios que têm o maior apelo popular. Neste mês, segundo dados do Ministério da Fazenda, 15,6 milhões de pessoas informaram trabalhar como MEIs.

A linha voltada aos empreendedores foi batizada de ProCred 360, e terá como foco os microempreendedores individuais e as microempresas, aquelas que faturam até R$ 360 mil por ano. A ideia é que essas empresas tenham acesso a financiamento com juros abaixo dos praticados pelo mercado – parte do governo entende que as taxas possam ser a metade das cobradas hoje pelos bancos. Há ainda a previsão de que as empreendedoras mulheres tenham acesso a limites superiores ao oferecido a companhias lideradas por homens.

GARANTIA. Para obter taxas mais acessíveis, será necessária garantia do Tesouro Nacional, que deverá ser viabilizada por meio do Fundo de Garantia de Operações (FGO). É o mesmo fundo já usado para as operações do Pronampe e do Desenrola.

O dinheiro do FGO também deverá ser usado para garantir as renegociações de dívidas do Pronampe, que tem escopo maior do que o imaginado para o ProCred, uma vez que atende a empresas com faturamento anual de até R$ 4,8 milhões. Hoje, o programa oferece juros de 6% ao ano mais a taxa básica de juros (Selic).

O governo verificou que a inadimplência segue elevada no programa: gira em torno de 8%, enquanto o observado nas pessoas jurídicas com recursos livres, segundo o Banco Central, é de 3,4%. Isso porque são empresas que foram muito afetadas durante a pandemia de covid-19 e que ainda não recuperaram a saúde financeira. Por isso, o intuito é focar na renegociação.

Desde que o programa foi criado, em 2020, na pandemia, não havia essa possibilidade, o que será autorizado agora com a edição da MP. Ou seja, as empresas, a partir dessa atualização legal, poderiam usar esse dinheiro para quitar dívidas variadas, inclusive com fornecedores.

OBSTÁCULO. A dúvida que fica é se o dinheiro disponível no FGO será suficiente para cobrir todas essas novas ações de crédito. Integrantes da equipe econômica afirmam que há sobra de recursos no fundo, devido à utilização abaixo do previsto pelo Desenrola. Isso porque o programa, em algumas faixas, teve demanda abaixo do esperado.

Além disso, a Fazenda projetava que haveria um alto porcentual de refinanciamentos das dívidas já renegociadas. No entanto, como os descontos nos saldos devedores foram elevados, muitas pessoas quitaram os valores à vista, sem recorrer a novos empréstimos. Logo, não houve necessidade de usar o FGO.

No início do mês, o fundo tinha R$ 6,6 bilhões disponíveis para garantir operações de mesmo valor no âmbito do Desenrola e outros R$ 850 milhões para assegurar até R$ 5,5 bilhões em empréstimos via Pronampe.

A renegociação dos débitos do Pronampe, porém, vai envolver empresas sem liquidez ou que já estão negativadas. O risco, portanto, será mais elevado – o que deve gerar pressão por uma maior cobertura do Tesouro ou maiores taxas de juros.

Será o nível de cobertura dado pelo governo, nas garantias, que determinará a participação dos bancos privados, tanto na renegociação do Pronampe quanto nos empréstimos a beneficiários do Bolsa Família, que também contarão com o aval do FGO. Nos bastidores, a equipe econômica vem destacando que não haverá dinheiro novo no fundo e que será necessário acomodar todos esses produtos dentro da cifra já disponível. •

Acima da média A inadimplência no Pronampe chega a 8%, ante 3,4% nas operações com recursos livres

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20240328/281925958018756/textview