Crise cambial se agrava e dólar paralelo ultrapassa os mil pesos

Crise cambial se agrava e dólar paralelo ultrapassa os mil pesos

A 12 dias do primeiro turno das eleições, governo baixa medidas para tentar evitar saída de moeda americana.

Na lona Analistas econômicos dizem que o Banco Central do país não tem mais reservas cambiais

O mercado cambial argentino sofreu um novo golpe ontem, quando a moeda americana ultrapassando a barreira psicológica de 1 mil pesos por dólar pela primeira vez. Conhecido como “dólar azul”, o câmbio paralelo bateu os 1.025 pesos – a cotação oficial está em 365 pesos. Ainda ontem, o governo baixou regras para evitar a saída de moeda estrangeira do país.

A crise cambial ocorre a 12 dias do primeiro turno da eleição presidencial. Com a supervalorização do dólar e os temores de uma corrida bancária, a associação dos bancos emitiu um comunicado exortando os candidatos a agirem com responsabilidade.

“Os candidatos devem evitar fazer declarações infundadas que gerem incerteza nas pessoas e volatilidade nas variáveis financeiras”, afirmou a associação, por meio de nota.

O governo, que tem o ministro da Economia, Sergio Massa, como candidato presidencial, oficializou ontem uma unificação de várias taxas de câmbio em vigor para turismo e poupança, com a aplicação de impostos para desencorajar a compra de moeda estrangeira.

Na semana passada, houve dezenas de operações policiais nas chamadas “cuevas” (cavernas) onde se negocia o “dólar blue”, assim como buscas em instituições financeiras, na tentativa de detectar operações ilegais de fuga de divisas da Argentina.

Desde 2019, a Argentina tem implementado controles de câmbio em razão do forte declínio das reservas internacionais, que, segundo as autoridades, fecharam em US$ 26,2 bilhões (cerca de R$ 132 bilhões) na segunda-feira. No entanto, de acordo com analistas econômicos, as reservas efetivamente disponíveis do Banco Central estão zeradas.

INFLAÇÃO.

Com uma inflação anualizada de 120% até agosto, a taxa de juros para depósitos a prazo, a 118%, está em território negativo.

A Argentina mantém um acordo de crédito com o Fundo Monetário Internacional de US$ 44 bilhões (cerca de R$ 223 bilhões), pelo qual se comprometeu com uma forte redução do déficit fiscal.

ELEIÇÃO.

A volatilidade no mercado cambial ocorre a poucos dias da eleição à Casa Rosada. O candidato ultraliberal Javier Milei, favorito nas pesquisas, tem dito que vai dolarizar a economia argentina. “Nunca em pesos, nunca em pesos. O peso é a moeda emitida pelo político argentino. Portanto, não pode valer nem excremento, porque esse lixo não serve nem para fertilizante”, disse. “Quanto mais alto o preço do dólar estiver, mais fácil é a dolarização.”

Massa chamou o adversário de “irresponsável”. “Quando vejo candidatos que, por um voto, são capazes de incendiar uma casa, a verdade é que me preocupo. Essa irresponsabilidade não me faz mal, não faz mal ao governo, faz mal a milhões de argentinos.”

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20231011/page/35/textview