Brasil está posicionado para atrair a indústria do futuro

Brasil está posicionado para atrair a indústria do futuro

Presidiu a Unilever de 2009 a 2019, quando implantou um ambicioso plano de transformação sustentável na empresa

“O País precisava de um plano integrado, porque essas coisas não podem ser feitas de forma fragmentada. O Plano de Transição Ecológica, que o governo federal apresentou, fez exatamente isso”

OBrasil está diante de um momento único, em que peças de um quebra-cabeça favorável à economia do País estão se juntado, de acordo com o holandês Paul Polman, presidente da Unilever entre 2009 e 2019. “O mundo acordou. As pessoas descobriram que precisam de soluções (para a crise climática). Viajo o mundo todo o tempo, e todo país deseja ter os elementos do Brasil. (…) Vocês estão bem posicionados para atrair as indústrias do futuro”, disse o executivo ao Estadão. “É um bom momento para ser brasileiro”, acrescentou ele, que esteve em São Paulo na semana passada para participar do Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas.

Polman destacou que a situação macroeconômica do Brasil melhorou e que o País avança em tecnologias de energia limpa. Questionado sobre o que o Brasil precisa fazer para não perder essa oportunidade, ele se disse otimista, que seria necessário criar um programa para integrar as políticas que envolvem economia verde. E isso, lembrou, já está em andamento com o Plano de Transição Ecológica, lançado pelo governo federal no ano passado.

Sob o comando de Polman, a Unilever foi uma das primeiras multinacionais a colocar a sustentabilidade no centro das estratégias – o que, hoje, passou a ser atacado por alguns acionistas.

O senhor disse, no Fórum, que o Brasil tem uma grande oportunidade diante da transformação da economia para um modelo de baixo carbono. E que aproveitar essa oportunidade depende do Brasil. O que o País tem de fazer?

Venho ao Brasil há 30 anos e me sinto mais energizado nesta visita do que em todas as outras. Há uma transformação acontecendo. O Brasil tem uma vantagem nessas mudanças, mas não está totalmente consciente disso. Vejo mais peças de um quebra-cabeça se juntando aqui do que eu vi em qualquer outro momento. A primeira peça é a macroeconomia. Vocês estão em uma posição melhor. A inflação e os juros estão diminuindo. O mercado financeiro está se fortalecendo. A nota crédito melhorou. Vocês começaram a reforma tributária e os títulos verdes estão chegando. O BNDES está trazendo algumas ideias para canalizar dinheiro. Então, a mudança está acontecendo.

Mas o que ainda precisa ser feito?

Vocês já começaram a fazer. Pela primeira vez, as pessoas entendem que os sistemas alimentares e o uso da terra têm de ser parte das soluções para as mudanças climáticas. Isso está acontecendo globalmente, e o Brasil está bem posicionado. O Brasil tem 90% de energia renovável. Tem biocombustíveis. Vocês já começaram a trabalhar na agricultura regenerativa. O Brasil pode não apenas oferecer matériaprima para o mundo, mas também soluções. O que precisa ser feito? O País precisa de um plano integrado, porque essas coisas não podem ser feitas de forma fragmentada. O Plano de Transição Ecológica, que o governo federal apresentou, é exatamente o que pedi quando vim aqui um ano atrás. O Ministério da Fazenda abraçou isso. As pessoas estão abraçando isso. Agora, vocês precisam atrair capital, porque atualmente o investimento é um sexto do necessário. Como atrair capital? Eliminando riscos políticos e cambiais, por exemplo. Trabalhando com instituições financeiras multilaterais. Mudando a história do Brasil lá fora. Os últimos 10 anos não foram bons aqui. O investimento estrangeiro direto diminuiu. Agora a história é muito melhor, mas precisa ser contada. E é preciso dar continuidade às reformas econômicas para atrair capital. O mais importante é a clareza de direção. O mundo empresarial destrava investimentos se houver clareza. O Brasil já está mais adiantado do que muitos países nessa transição e também tem vantagens competitivas significativas. É um bom momento para ser brasileiro.

No fim dos anos 2000 também se falava que havia chegado a hora do Brasil. Qual a diferença agora?

A diferença é que o mundo acordou. As pessoas descobriram que precisam de soluções. Viajo o mundo todo o tempo, e todo país deseja ter os elementos do Brasil. O País tem uma rede de energia conectada, está investindo muito em energia solar e eólica e tem uma indústria de biocombustíveis eficiente. Está começando, em ritmo acelerado, projetos de restauração da natureza, o que outros países ainda não fazem. Vocês estão bem posicionados para atrair as indústrias do futuro. Pense neste País e como ele pode transformar a agricultura no mundo. Fertilizantes verdes têm de nascer aqui. Em como pode mudar a indústria da aviação com combustível sustentável. O País tem elementos que permitem escalar as atividades.

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20240312/textview