Projeção de crescimento do PIB de 2,2% este ano é conservadora, diz secretário de Política Econômica

Projeção de crescimento do PIB de 2,2% este ano é conservadora, diz secretário de Política Econômica

Segundo Guilherme Mello, peso do agronegócio em 2024 deve diminuir, e o dos investimentos e da indústria, avançar; ‘Teremos serviços ainda contribuindo positivamente’, afirma

BRASÍLIA – O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou ao Estadão/Broadcast que a atual projeção de avanço do PIB de 2,2% para 2024 é conservadora porque há uma nova composição de crescimento, em que o peso do agro diminui e os investimentos e indústria voltam a avançar. O quadro é diferente de 2023, quando a economia, que deve avançar 3% na previsão da SPE, foi muito impulsionada pelo desempenho do agronegócio.

“Nós vamos ver em 2024 um crescimento quantitativamente um pouco menor que 2023, mas qualitativamente um pouco melhor no sentido de mais bem distribuído. Teremos serviços ainda contribuindo positivamente, a indústria voltando a contribuir positivamente e, do ponto de vista da demanda, os investimentos voltando a contribuir positivamente”, disse.

É por essa razão que a Fazenda entende que conseguirá avançar no nível de arrecadação em 2024, para a casa dos 19% do PIB, cenário aliado ao conjunto de medidas aprovadas no Congresso para aumentar o patamar de receita — embora esse salto seja visto com desconfiança no mercado e até mesmo pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Com pouca margem para cortar despesas, o governo conta com a arrecadação para cumprir a meta de déficit zero neste ano.

Nova composição

Mello pontua que, apesar de o agro não contribuir para o avanço do PIB no mesmo nível de 2023, ainda terá uma participação positiva, assim como o setor externo. “Temos uma expectativa de que principalmente o mercado de crédito possa melhorar em relação a 2023, quando foi muito afetado pelos efeitos defasados da política monetária e também pelo evento Americanas. Juntando esses fatores, o mercado de crédito, em particular para empresas, sofreu um baque bastante significativo. Mesmo o crédito imobiliário não teve um bom desempenho em 2023 por fatores parecidos”, avalia.

Com a flexibilização dos juros, a normalização do mercado de capitais pós-Americanas, redução dos spreads e as medidas que estão sendo tomadas, como o marco de garantias, Mello pontua que 2024 tem potencial de ser o ano de reação de investimentos e indústria.

“Essa nova composição do crescimento traz menos agro e um pouco mais de indústria, menos demanda externa e um pouco mais de investimento. Para um ciclo de crescimento se sustentar, ele tem de trazer consigo uma retomada no investimento — tanto público quanto privado — senão você pode até ter alguns anos de crescimento, mas isso se sustenta com o tempo. Nós estamos vendo aqui esse momento de desaceleração quantitativa, mas a melhoria qualitativa vai preparar um novo tipo de crescimento para os próximos anos”, defende.

No campo das incertezas, o cenário internacional é a maior incógnita, especialmente devido a conflitos geopolíticos que podem afetar as cadeias produtivas. O cenário avaliado pelo governo, no entanto, já considera uma perspectiva de desaceleração do crescimento global, mas também de desinflação, com o afrouxamento da política monetária no mundo desenvolvido a partir de meados de 2024.

Mello pontuou ainda que a SPE não identificou até o momento um “fator decisivo” que indique uma mudança na projeção de crescimento do PIB de 2,2% em 2024. A última grade de parâmetros da secretaria foi divulgada em novembro, e uma nova deve ser publicada em março.

Equilíbrio fiscal

O secretário de Política Econômica reforçou a confiança do Ministério da Fazenda sobre o cumprimento da meta de zerar o déficit neste ano, apesar de o mercado ainda prever um rombo nas contas públicas em 2024. Ele minimizou a diferença nas projeções e defendeu que o espaço de incerteza fiscal já diminuiu muito desde o ano passado, a partir do novo arcabouço fiscal e das medidas para recuperar a arrecadação, que em 2023 deve fechar abaixo do nível histórico, de 17,5% do PIB. Sob desconfiança do mercado e do próprio TCU, a equipe econômica acredita que pode elevar esse nível a 19,2% do PIB em 2024.

“Parte do mercado fala: ‘Eu não acredito nisso, acho que será um déficit próximo de 0,5%, 0,6% do PIB’. O espaço de incerteza é muito menor, quase que margem de erro. Então o nível de incerteza se reduziu. A discussão é se você vai conseguir encontrar um equilíbrio ou se vai se aproximar de um equilíbrio e ainda não chegar nele”, disse Mello.

O secretário ainda avaliou que essa incerteza fiscal não deve ser um fator fundamental para a definição da taxa terminal para a Selic neste ano. No último relatório Focus, o mercado manteve em 9% ao ano a mediana para a taxa de juros no encerramento de 2024. Para ele, o que irá de fato determinar se o País terá ou não uma taxa de juros mais próxima da neutralidade está ligado ao cenário inflacionário doméstico e aos rumos da política monetária no exterior.

O mercado, contudo, teme que, pressionada a mudar a meta fiscal pela ala política do governo, a equipe da Fazenda ceda e isso comprometa desde já qualquer confiabilidade na tarefa do arcabouço em controlar o avanço de gastos públicos no Brasil.

Questionado sobre esse cenário, Mello afirmou que a equipe está “confiante” na entrega do resultado primário neutro. Para justificar o otimismo, ele citou as medidas para turbinar a arrecadação aprovadas no ano passado e a nova composição do crescimento esperado para 2024.

“A composição do crescimento é melhor para a arrecadação. É um crescimento mais distribuído entre os setores, em particular indústria e serviços. Isso é melhor para a arrecadação do que crescimento muito concentrado no agro, que é um setor menos tributado, porque é muito exportador. Temos excelentes motivos”, disse Mello.

Ele ainda citou a expectativa melhor sobre o IGP-M, que, deflacionado em 2023, prejudicou o nível de arrecadação. “Há vários elementos para acreditar que a receita vai se comportar muito melhor esse ano que se comportou no ano passado”, concluiu.
Fonte: O Estado de São Paulo – 02.02.2024
link: https://www.estadao.com.br/economia/projecao-crescimento-pib-conservadora-secretario-politica-economica/#:~:text=BRAS%C3%8DLIA%20%2D%20O%20secret%C3%A1rio%20de%20Pol%C3%ADtica,e%20ind%C3%BAstria%20voltam%20a%20avan%C3%A7ar.