O PIB de 2023 deve surpreender positivamente

O PIB de 2023 deve surpreender positivamente

Claudio Adilson Gonçalez Economista, diretor-presidente da MCM Consultores, foi consultor do Banco Mundial, subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda

Nos últimos três anos, os analistas vêm subestimando, por larga margem, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Os dados a seguir comparam as projeções medianas da pesquisa Focus, do Banco Central, no final do ano anterior (exceto 2020, quando eclodiu a pandemia, em que tomei as previsões do final de abril do mesmo ano) com as taxas efetivamente observadas. Vejamos. Projeção para 2020: -6,48%; realizada: -3,3. Projeção para 2021: 3,4%; realizada: 5,0%. Projeção para 2022: 0,36%; realizada: 2,9%. Para 2023, as projeções ao final do ano passado indicavam crescimento do PIB de 0,8%. Assim que foi divulgado o resultado do primeiro trimestre, a projeção mediana saltou para 2,14%.

Erros de projeção são comuns, mas o que vemos nesses dados são subestimativas persistentes e de grande magnitude. Vários fatores podem explicar isso e não cabe aqui uma análise detalhada. Limito-me a destacar o que parece ser o principal motivo: os analistas não têm dado a devida importância para o efeito sobre a demanda agregada do expressivo crescimento da renda associada aos setores agropecuário e de óleo e gás. De acordo com conceito utilizado pelo Banco Mundial (BM), essa renda, altamente correlacionada com o valor adicionado do PIB, é igual à diferença entre o preço de mercado e o custo médio de produção, multiplicada pela quantidade produzida.

Conforme estimativas do BM (até 2021), complementadas pelo economista Bráulio Borges (FGV e LCA Consultores), essa renda saltou de 2,9% do PIB (média de 2015 a 2020) para cerca de 7,5% do PIB no biênio 2021/2022, devendo se manter nesse patamar em 2023. Observe-se que em 2011, no auge do superciclo de commodities, foi de 5% do PIB.

É voz corrente que o crescimento surpreendente do PIB no primeiro trimestre de 2023 decorreu apenas do grande salto na produção do setor agropecuário, ou seja, de um choque positivo de oferta. Dado que a demanda interna está fraca e o choque positivo não vai se repetir, haveria expressiva desaceleração da economia no restante do ano.

Sem dúvida, o crescimento do PIB no início deste ano foi excepcional e não se manterá nos demais trimestres. No entanto, não se pode esquecer que o PIB é igual à renda interna bruta. Ou seja, o crescimento da renda no setor de recursos naturais aumenta a poupança dos produtores e posteriormente tende a elevar a demanda interna. Quem vive ou viveu no interior sabe que posteriormente às boas safras se compram tratores, implementos agrícolas e carros do ano e lotam-se os shopping centers.

Assim, não será surpresa se a taxa de crescimento do PIB, em 2023, se igualar ou até mesmo superar os 2,9% de 2022. Lula da Silva comemorará, mas dificilmente esses números se repetirão no restante do seu mandado. A economia já opera no seu potencial, e reformas estruturais, se ocorrerem, demoram para surtir efeitos. •

Erros de projeção são comuns, mas o que vemos são subestimativas persistentes

FONTE: O Estado de São Paulo – 26/06/2023

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