Mercado antes previa até 6 cortes nos EUA; agora, fala em 2 ou 3

Mercado antes previa até 6 cortes nos EUA; agora, fala em 2 ou 3

Uma eventual postergação da queda dos juros nos Estados Unidos para o segundo semestre marcaria mais um revés na expectativa do mercado financeiro. Na virada do ano, houve um grande otimismo entre os investidores, já que havia uma previsão de que o Fed, o banco central americano, faria até seis cortes de 0,25 ponto porcentual neste ano – hoje, porém, já há apostas de que serão duas ou três reduções.

Com as perspectivas mais otimistas, mercados emergentes, como é o caso do brasileiro, foram inundados de recursos. Em novembro e dezembro do ano passado, por exemplo, a entrada de recursos foi de R$ 21 bilhões e R$ 17,5 bilhões, respectivamente. Neste ano, com o cenário já desenhado de um ciclo de juros mais contido, já houve um movimento contrário.

“Em novembro e dezembro, quando houve aquela febre, eu dizia e continuo dizendo que os juros (nos EUA) iriam cair duas ou três vezes a partir do segundo semestre”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos. “O cenário está se avizinhando com o que eu falava.”

O Fed começou a subir as taxas de juros em março de 2022, que chegaram ao intervalo atual de 5,25% a 5,50% ao ano em julho do ano passado. “É preciso muito cuidado ao celebrar a reversão dos choques (inflacionários). Os choques vêm e não desaparecem sem deixar vestígios. Eles deixam marcas”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Até a reunião de junho, portanto, o Banco Central dos EUA vai analisar cada número de atividade, mercado de trabalho e inflação. O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) também faz um encontro em 30 de abril e em 1.º de maio. “É cada dia com a sua agonia. Temos de ver os dados que vão saindo”, afirma Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.

NÚMEROS. Relatório do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgado na sexta-feira trouxe mais um dado que reforçou o cenário de força do emprego no país, com a criação de 303 mil postos em março, em termos líquidos, acima do teto das expectativas de analistas, de 245 mil postos.

No entanto, o Fed deve reforçar a análise das próximas leituras do núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que exclui itens voláteis como alimentos e energia – a medida preferida de inflação da autoridade monetária. Os números de fevereiro (os últimos divulgados) mostram o núcleo do índice com uma alta anual de 2,78%. Serão divulgados mais três números do PCE até junho.

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20240410/page/21/textview