Elevar os investimentos é fundamental para que o País consiga crescer mais

Elevar os investimentos é fundamental para que o País consiga crescer mais

Além das incertezas políticas, País tem desafio de superar uma série de problemas estruturais

O aumento dos investimentos é considerado fundamental para que o País consiga crescer a taxas mais altas nos próximos anos sem apresentar desequilíbrios, como a volta de uma inflação mais incômoda. E com a restrição fiscal, os novos projetos vão depender cada vez mais da iniciativa privada. No ano passado, a queda da formação bruta de capital fixo levou a taxa de investimento no País para um patamar bastante fraco, a 16,5% do PIB.

O grande problema é que o número ruim não fica restrito a 2023. Ao longo das últimas décadas, a economia brasileira tem apresentado uma dificuldade estrutural para conseguir aumentar a taxa de investimento. Foram poucos os anos em que ela superou os 20% do PIB, um patamar considerado razoável. Em 2024, deve chegar a 17,6%, de acordo a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI), nível que deve se manter nos próximos anos.

O desempenho do Brasil é ainda mais preocupante quando se compara com outros países. Entre 2021 e 2028, a média da taxa de investimento das economias emergentes deve ser de 32,2% do PIB, de acordo com dados do FMI compilados pelo Ibre, da Fundação Getulio Vargas. A do Brasil será de 17,4% do PIB, e a da América Latina, de 20,4% do PIB.

MAIS POUPANÇA. Assim, para conseguir alavancar o patamar dos investimentos, o País terá de fazer mais. Precisará, por exemplo, aumentar a taxa de poupança dos setores público e privado, e das famílias. Em 2023, essa taxa foi de 15,4% do PIB, abaixo do apurado em 2022 (15,8%).

“Se não aumentar a taxa de poupança, fica difícil conseguir aumentar a taxa de investimento. Sem aumentar a taxa de poupança doméstica, vai precisar ter poupança externa”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “E depender de poupança externa de uma forma muito intensa os coloca sob o risco de enfrentar uma volatilidade muito intensa lá fora.”

Será necessário também melhorar o ambiente de negócios – a reforma tributária é um caminho –, com regras claras e estáveis para atrair investimentos e promover uma abertura da economia para uma integração maior da economia com o resto do mundo.

AGENDA VERDE.

Hoje, a atração dos investimentos com base na agenda verde está no radar do governo federal, que também espera atrair novos projetos com a volta do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com o Nova Indústria Brasil – pacote que reedita políticas de antigas gestões petistas é prevê R$ 300 bilhões em créditos e subsídios ao setor.

“O Brasil tem uma das maiores tarifas de importação do mundo, tem uma exigência de conteúdo local descabida, e nova política industrial reforça isso. Também temos poucos acordos comerciais”, diz Vale.

Se por um lado a agenda é extensa, a boa notícia é a de que o Brasil pode se beneficiar – e muito – se adotar uma agenda correta, diante da capacidade que tem para atrair os investimentos verdes e das mudanças geopolíticas, com o chamado nearshoring – novo modo de organização das multinacionais, que passaram a levar parte de suas fábricas para perto dos mercados consumidores.

“Se o Brasil tiver um programa mais estruturado de como alavancar a indústria a partir da nossa matriz energética renovável, isso tende a destravar o investimento não só para a redução de emissão de gás carbônico dos demais setores, mas também para alavancar o investimento no setor energético”, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “O mercado global de energia verde ainda não está estruturado. Precisamos de uma demanda interna fortalecida para justificar esses investimentos, que são de longo prazo e de muito capital intensivo”, acrescenta.

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20240311/page/21/textview