Economia verde é base para relação entre Brasil e EUA, diz Amcham

Economia verde é base para relação entre Brasil e EUA, diz Amcham

CEO da câmara americana de comércio para o Brasil afirma que há uma janela de oportunidade para os dois países
O Estado de S. Paulo.12 Dec 2023BEATRIZ BULLA

Há uma janela de oportunidade para o Brasil intensificar sua relação bilateral com os Estados Unidos – e se beneficiar de investimentos privados americanos, se avançar rumo à transição para uma economia de baixo carbono. A leitura é do CEO da Amcham Brasil, a câmara americana de comércio para o País, Abrão Neto.

“Estamos em um momento em que Brasil e EUA compartilham a avaliação de priorização da agenda ambiental e climática. Hoje, é a coluna vertebral da relação entre Brasil e EUA, dado o potencial de aproximação entre os dois países e de impacto que pode gerar do ponto de vista econômico e ambiental”, disse o executivo, em entrevista ao Estadão .A Amcham reúne empresas que respondem por um terço do PIB brasileiro.

“Além de prioridade política, tanto Brasil como EUA são potências ambientais e potências na agenda climática em razão do volume de recursos ambientais que os dois países guardam. É fundamental que EUA e Brasil estejam engajados para agenda climática ter sucesso”, afirma o líder da Amcham, que foi secretário de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços no governo Michel Temer.

Em setembro, uma missão com representantes do setor privado e do governo dos EUA esteve no Brasil para discutir o assunto. A delegação foi chefiada pelo embaixador David Thorne, assessor sênior de John Kerry, enviado especial do clima do presidente americano Joe Biden, e contou com a presença de representantes de 30 empresas americanas. “Eles foram embora com a melhor sensação possível, positivamente surpresos com o nível de desenvolvimento, interesse e engajamento do setor privado brasileiro nessa agenda”, diz o CEO da Amcham.

Há uma semana, a Amcham lançou a plataforma Brasil Pelo Meio Ambiente, que reúne 183 projetos de 111 empresas associadas, que mobilizam investimentos de R$ 31 bilhões em projetos de preservação ambiental.

ALINHAMENTO RECENTE. A convergência da visão de Washington e Brasília sobre a adoção de uma política de desenvolvimento econômico baseada na transição energética e na descarbonização é fruto de um alinhamento recente entre os governos. Durante o mandato do ex-presidente Donald Trump (2017-2020), a Casa Branca menosprezou informes científicos sobre mudanças climáticas. Ao assumir o Planalto, em 2018, o ex-presidente Jair Bolsonaro endossou o posicionamento de Trump.

A partir de 2021, quando Biden assumiu o governo americano e colocou a questão climática como pilar de suas políticas econômica e externa, Brasília tentou modular o discurso, mas encontrou ceticismo e distanciamento por parte de Washington. Os dois países voltaram a falar a mesma língua a partir de janeiro deste ano, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi empossado e assumiu discurso afinado com a posição de Biden sobre o assunto.

“Há uma janela que precisa ser aproveitada, porque o cenário político é favorável, mas também porque existe uma emergência climática. O Brasil está bem posicionado, mas precisa se movimentar”, diz o executivo da Amcham.

Segundo Neto, o setor empresarial tende a se mover cada vez mais na direção dos investimentos em agenda verde, independentemente da posição dos governos. “Se houver uma mudança política, certamente os agentes vão buscar se reorganizar, mas com uma determinação de dar continuidade a essa transição”, afirma.

A relação comercial entre Brasil e EUA tradicionalmente esbarrou em áreas onde os países competem pelo mesmo mercado. Na leitura do executivo da Amcham, no entanto, os dois países podem se complementar na agenda de transição energética. “Não abordamos essa agenda a partir de uma perspectiva de concorrência, mas de complementaridade e trabalho conjunto. O trabalho em conjunto potencializa os resultados de ambos os países.” •

“Há uma janela que deve ser aproveitada, porque o cenário político é favorável, mas também porque existe uma emergência climática. O Brasil precisa se movimentar” Abrão Neto

CEO da Amcham Brasil

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20231212/page/25/textview