Demolição do antigo pavilhão do Anhembi divide opiniões

Demolição do antigo pavilhão do Anhembi divide opiniões

Remodelação e expansão do Anhembi, simbólico para a cidade de SP, é feita pela concessionária que assumiu o complexo. Uma parte do antigo Pavilhão de Exposições foi mantida. Inauguração está prevista para o fim do primeiro semestre de 2024.

Ao passar pela Marginal do Tietê e vias do entorno, paulistanos têm se deparado com a retirada de estruturas e se perguntado sobre o que ocorreu com o Pavilhão do Anhembi, na zona norte de São Paulo. Chegou-se até a especular sobre um destelhamento em um temporal, mas não: a desmontagem faz parte da remodelação e expansão do complexo. A obra tem dividido opiniões e motivado críticas por atingir uma construção pioneira e simbólica para o Município.

A maioria dos restos do Pavilhão de Exposições virou sucata. As estruturas de alumínio são compactadas no local e destinadas a uma siderúrgica. A desmontagem vai se estender até o fim de novembro, mas nem tudo foi removido: uma parte foi mantida e funcionará como marquise de entrada do novo espaço de exposições. A inauguração do novo pavilhão está prevista para o fim do primeiro semestre de 2024. A maioria dos espaços do Anhembi também será reaberta na mesma data, com exceção de uma arena multiúso ainda a ser construída.

O complexo também foi renomeado como Distrito Anhembi pela concessionária que o assumiu por 30 anos, a francesa GL Events. A obra completa é estimada em R$ 1,5 bilhão, com o direcionamento de todas as entradas para a Avenida Olavo Fontoura.

Diretor-geral do Distrito Anhembi, Rodolfo Andrade justifica que a mudança é necessária para a remodelação e adaptação do espaço a novos padrões de conforto, segurança contra incêndios e acessibilidade, tornando-se mais flexível. “O Anhembi é um ícone no nosso setor, como o Maracanã é para o futebol. É um ícone, que tem história, mas que precisava de um upgrade”, diz. “Vai entrar em uma escala mundial”, afirma.

O novo pavilhão tem projeto do escritório francês Wilmotte & Associés, com colaboração da RAF Arquitetura, chamado a fim de promover uma “tropicalização” da proposta. A estrutura de alumínio e pés de galinha de aço remanescente, e que funcionará de marquise, será “acoplada” à nova construção.

CRÍTICA. Autora de uma tese sobre o Anhembi, a arquiteta e urbanista Raissa de Oliveira critica a desmontagem do pavilhão. Ela compara a derrubada da estrutura com a de uma Torre Eiffel, pelas inovações tecnológicas que envolvia, embora nunca tenha sido valorizada à altura. “Toda essa história mostra também um processo de esquecimento, daquela história ‘da grana que ergue e destrói coisas belas’.” •

Desvalorização

Arquiteta e urbanista critica processo e diz que estrutura nunca foi valorizada à altura

Foi a maior construção de alumínio do mundo

Na inauguração, em 1970, o Pavilhão do Anhembi foi considerado símbolo da modernização, fruto de complexo trabalho de engenharia e arquitetura, com uma estrutura erguida de uma só vez (por guindastes) e proposta inédita. Também foi a maior construção de alumínio do mundo, possível a partir de um cálculo que envolveu especialistas internacionais, especialmente o francocanadense Cedric Marsh. O projeto arquitetônico é de Jorge Wilheim com Miguel Juliano e Silva e Massimo Fiocchi.

Seu pedido de tombamento, porém, foi negado pelo conselho municipal de patrimônio cultural em 2017, na gestão João Doria (então no PSDB). A decisão ocorreu em processo controverso e acusado de interferências externas, o que o poder público negou à época.

O pedido de preservação tinha parecer favorável dos técnicos do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), que costuma ser acatado nas decisões, mas foi negado pelo conselho. O parecer falava do papel do Anhembi como “nova centralidade urbana”. O departamento paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/SP) chegou a emitir uma carta aberta, na qual dizia que as demandas do patrimônio ficaram “em segundo plano”.

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20231031/page/19/textview