Cenário positivo destrava negócios com estrangeiros

Cenário positivo destrava negócios com estrangeiros

Transações bilionárias foram fechadas com melhora da economia

Estimulados pela melhora do cenário econômico brasileiro e pelo avanço das reformas, empresários e investidores estrangeiros voltaram a buscar oportunidades de negócios no País. O impulso nas transações foi mais sentido no fim do primeiro semestre, quando as reformas começaram a andar, as agências de risco reconheceram os avanços e a inflação voltou a ceder. Negócios bilionários foram destravados no último mês com compradores do exterior – muitos estão desembarcando por aqui pela primeira vez. Os Estados Unidos, com 72 transações, e o Reino Unido, com 26, foram os que mais investiram no Brasil neste ano até agora. Corte dos juros deve melhorar cenário.

A melhora do cenário para a economia brasileira e o avanço das reformas em Brasília estimularam empresários e investidores estrangeiros a buscarem oportunidades de aquisição de empresas no Brasil. Só nas últimas quatro semanas, negócios bilionários foram destravados com compradores do exterior. A americana Visa comprou a Pismo; a Ferrara Candy Company, de Chicago, arrematou a Dori Alimentos; a porto-riquenha Evertec, listada em Nova York, comprou a Sinqia; e a Vale conseguiu atrair árabes e americanos para vender parte de sua unidade de metais básicos, em um negócio de US$ 3,4 bilhões.

Muitos destes investidores estão desembarcando no Brasil pela primeira vez. Os Estados Unidos, com 72 transações, e o Reino Unido, com 26 , são os países que mais investiram no Brasil neste ano até agora, de acordo com dados da consultoria Transactional Track Record (TTR).

“Estamos animados para entrar no mercado brasileiro em rápido crescimento”, disse no anúncio do negócio Marco Capurso, CEO da Ferrara, principal produtor de balas e gomas nos Estados Unidos, que no final de julho comprou a Dori, de Marília, no interior de São Paulo.

PRIMEIRA VEZ. “Investidores estrangeiros estão entrando no Brasil pela primeira vez. É uma mudança. A gente não via isso há bastante tempo. Estamos no começo de um novo ciclo de interesse dos estrangeiros pelo País, especialmente pelos americanos”, disse o sócio do escritório de advocacia americano Hughes Hubbard & Reed LLP, Carlos Lobo, baseado em Nova York, em entrevista ao Broadcast.

A melhora dos negócios, porém, se deu mais para o final do primeiro semestre, quando as reformas começaram a andar, as agências de rating reconheceram os avanços e a inflação começou a ceder, possibilitando a primeira queda de juros no País em ritmo até mais forte que muitos economistas esperavam.

Os dados de todo o primeiro semestre, no entanto, ainda mostram queda das fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) no período, envolvendo brasileiros e estrangeiros.

O número de aquisições de empresas brasileiras por norteamericanas teve uma queda de 45% entre janeiro e junho em comparação com o mesmo período de 2022, segundo a TTR.

De acordo com o advogado João Busin, do escritório TozziniFreire, as operações de M&A que o escritório ajudou a estruturar cresceram 4% no segundo trimestre, e 54% das operações de que participou entre janeiro e junho envolveram estrangeiros, como europeus e norte-americanos.l

Ativos em alta

Os EUA, com 72 negócios, e o Reino Unido, com 26, são os países com mais aportes no Brasil este ano

Aqueda da participação da indústria de transformação (IT) no PIB é um fenômeno global. Há duas razões para isso: 1) na medida em que a renda cresce, aumenta a parcela dos gastos dos consumidores em serviços; 2) como os avanços tecnológicos concentram-se mais na indústria, os preços relativos dos produtos manufaturados tendem a cair, reduzindo a parcela destes no PIB.

Mas a desindustrialização brasileira é impressionante e precoce. Conforme dados das contas nacionais tabulados pelos economistas Claudio Considera e Juliana Trece, a preços correntes, ou seja, o valor adicionado do setor em relação ao valor adicionado total do PIB, a participação da IT caiu de 35,9%, em 1985, para 11,3%, em 2021.

Para um setor intensivo em capital, como é a IT, o primeiro fator que explica esse frágil desempenho é o nível elevado do juro real, que não é uma escolha do Banco Central, como pensa o presidente Lula da Silva, mas decorre de parâmetros estruturais, como o baixo nível de poupança, inclusive do governo.

Em segundo lugar, os impostos

Lula parece empolgado com a política industrial protecionista do século passado

indiretos sobre o consumo penalizam em demasia os produtos industriais, especialmente aqueles que passam por várias etapas no processo produtivo, e a cumulatividade impede a plena desoneração desses tributos dos investimentos e das exportações. Felizmente, a reforma tributária aprovada na Câmara, apesar dos muitos jabutis, se não for piorada no Senado, tende a resolver esse problema, mas somente a médio e longo prazos.

Esses dois fatores (custo de capital e carga tributária) têm criado um círculo vicioso na busca e obtenção de barreiras protecionistas. Nos últimos 50 anos, o Brasil tem insistido na política de substituição de importações nos moldes dos anos 1950, apesar das profundas transformações da economia global. Redução gradual do protecionismo, principalmente para produtos e serviços digitais e de comunicações, e maior inserção na economia mundial são condições necessárias para aumentar a produtividade e a competitividade da IT.

Não há bala de prata. A recuperação da indústria demanda um conjunto amplo de ações, mas alguns pontos-chave podem ser citados: estímulo à inovação e à tecnologia – por exemplo, ampliando a ação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) –, e foco em setores onde o Brasil já tem vantagens comparativas, como agroindústria e alimentos, energia renovável, principalmente hidrogênio verde, e complexo industrial da saúde, entre outros. É importante também reduzir os penduricalhos que encarecem o custo da energia.

Os pontos aqui tratados não são desconhecidos nas áreas técnicas do atual governo. O que preocupa é que o presidente Lula parece empolgado com a política industrial protecionista do século passado e não com a definição de uma política industrial moderna, que efetivamente suste o processo de quase aniquilação do setor manufatureiro brasileiro.