Analistas veem ganho para Brasil com acordo entre Estados Unidos e China
Aumento do comércio mundial compensaria queda pontual de exportações para a China
O crescimento econômico global e o avanço do comércio internacional poderão mais que compensar as perdas que o Brasil terá no setor agrícola após o acordo entre Estados Unidos e China. Na avaliação de economistas, com a economia mundial mais forte, há uma perspectiva positiva em relação às commodities metálicas, como o minério de ferro, que são importantes para o Brasil.
Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio Leal, o avanço nas negociações entre Estados Unidos e China melhora as perspectivas para o crescimento mundial em 2020 e, portanto, é positivo para o Brasil, apesar de haver a possibilidade de o acordo prejudicar as exportações de commodities agrícolas brasileiras para os chineses. “Qualquer avanço nas conversas diminui a probabilidade de rompimento, o mercado fica mais tranquilo e o crescimento mundial pode surpreender pra cima.”
O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, tem opinião semelhante. Na avaliação dele, o Brasil perderá em termos marginais uma demanda que teria a mais caso houvesse uma substituição de importações chinesas do Brasil em detrimento dos Estados Unidos. “Entretanto, o que podemos ganhar com a ampliação do crescimento global e do comércio mais do que compensa esse possível ganho agrícola, que é muito mesquinho.”
Otimismo
No agronegócio, no entanto, as previsões são otimistas. Durante a briga com os Estados Unidos, os chineses elevaram suas importações do Brasil, especialmente de soja. Com um acordo, eles poderiam voltar a comprar grãos dos americanos e diminuir a demanda pelo produto brasileiro.
Mas na opinião do vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Gustavo Chavaglia, o Brasil conseguiu – nesse período de divergências entre China e Estados Unidos – consolidar as relações com o país asiático, atendendo toda a demanda existente. “Fomos uma boa alternativa para a China porque temos capacidade de suprir as necessidades deles.”
Ele conta que, nos últimos meses, recebeu uma série de delegações chinesas para conhecer as instalações brasileiras. Todas tinham o mesmo questionamento, se o Brasil teria capacidade de atender a demanda deles. “Respondemos isso na prática”, afirmou o executivo da Aprosoja Brasil. Nesse movimento, as exportações subiram de 75 milhões para 90 milhões de toneladas – um aumento de 20% em relação ao período anterior.
Pelo esforço dos últimos meses, ele acredita que o Brasil ficará com uma grande fatia do mercado chinês. Para a próxima safra (19/20), a expectativa é de produzir 123 milhões de toneladas de soja, se as condições climáticas não se alterarem. Isso significaria um aumento 6% em relação a última safra. “E não trabalhamos com queda nas exportações. Estamos otimistas.”
Leal, do Banco ABC Brasil, acrescenta que a China deve aumentar a sua demanda por grãos, em razão da gripe suína. “Eles vão ter de recompor seus rebanhos de porcos com outra qualidade para evitar novos episódios.”
Acordos bilaterais
No setor de carnes, o acordo entre China e Estados Unidos também não deve ter efeitos negativos. A diretora executiva da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Liège Nogueira, explica que o tipo de produto exportado pelo Brasil para a China é diferente daquele vendido pelos Estados Unidos. “Todo aumento de exportação que tivemos recentemente é resultado de trabalhos para fechar acordos bilaterais, não por causa da guerra comercial entre os dois países.”
A executiva afirma, entretanto, que uma possível retomada de compras de carnes gourmets dos Estados Unidos pode afetar o preço mundial e, logicamente, o Brasil. Mas ela não acredita que isso vá mudar os planos do setor, que trabalha para habilitar novas plantas no ano que vem para exportar para a China.
Fonte: André Ítalo Rocha e Renée Pereira, O Estado de S.Paulo, 14 de dezembro de 2019