A indústria e os novos desafios
No ano passado, indústria brasileira respondeu por apenas 1,98% do total de manufaturados produzidos em todo o mundo
A perda de participação da indústria brasileira na produção mundial, que se acentuou nos últimos anos, deixa ainda mais evidente o impacto da recessão iniciada em 2014 sobre a atividade fabril e torna mais urgentes as mudanças que assegurem ao setor manufatureiro nacional condições de competir internacionalmente. No ano passado, a indústria brasileira respondeu por apenas 1,98% do total de manufaturados produzidos em todo o mundo, de acordo com estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) cujas conclusões foram divulgadas pelo Broadcast, serviço de informação em tempo real da Agência Estado. A indústria brasileira vem perdendo espaço na produção mundial desde meados da década de 1990, mas o índice relativo a 2017 é o primeiro em três décadas que fica abaixo de 2%.
A profunda crise gerada pela irresponsável política econômica do governo Dilma Rousseff, que impôs severas perdas ao setor produtivo e gerou tremendos desequilíbrios nas finanças públicas, começa a ceder, pelo menos no que se refere à atividade econômica. Mas são muitos os obstáculos que os dirigentes industriais terão de ultrapassar para superar os efeitos da aguda recessão pela qual passou o País. Sem a confiança no futuro, seriamente abalada pela crise, não haverá a retomada dos investimentos na modernização dos processos produtivos, na atualização dos produtos e na expansão da capacidade produtiva. A perda de vigor da recuperação da economia observada recentemente em nada contribui para melhorar o ânimo dos empresários. As incertezas políticas igualmente afetam a confiança do setor produtivo.
Tudo isso torna ainda mais difícil a busca de eficiência, produtividade e competitividade que permitam ao setor produtivo nacional alcançar melhores posições em relação aos seus principais competidores no mercado global ou, pelo menos, para interromper o processo de perda de espaço no cenário mundial.
Em 1994 e 1995, o Brasil detinha 3,43% da produção industrial mundial, de acordo com estudo da CNI baseado em estatísticas e estimativas da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido). A redução da participação do Brasil entre os principais fabricantes industriais vem sendo observada desde 1995. Países mais industrializados na década de 1990 igualmente perderam participação, em razão do rápido crescimento da participação chinesa no cenário mundial. Mas a perda da participação brasileira se acentuou depois de 2014.
De 2,49% da produção mundial em 2014, a participação brasileira caiu para 1,98% em 2017. Entre 2016 e 2017, a participação brasileira diminuiu 0,34 ponto porcentual, perda menor apenas do que a registrada pelos Estados Unidos, de 0,58. Mas, para os Estados Unidos, essa perda resultou no encolhimento de apenas 3,6% na participação da produção mundial, enquanto a redução da participação brasileira foi de 14,7%.
É preciso reconhecer que a recessão iniciada em 2014 apenas acentuou – é verdade que de maneira aguda – um processo que decorre de outros problemas históricos do País, como precariedade de infraestrutura (estradas mal conservadas e em parte intransitáveis; malha ferroviária insuficiente; portos e aeroportos ainda ineficientes e caros; entre outros), complexidade do sistema tributário, burocracia excessiva, insegurança jurídica em razão de decisões erráticas das autoridades, carência de mão de obra preparada, entre outros.
A problemas antigos cuja solução depende em boa parte de políticas públicas adequadas se somam os desafios que surgem para a indústria em todo o mundo. À necessidade de superar dificuldades históricas, que têm provocado a perda de competitividade do Brasil em relação aos outros países, se acrescenta a de estabelecer uma estratégia para o desenvolvimento e a incorporação de tecnologias que assegurem a melhora da posição da indústria brasileira no novo sistema de produção industrial, conhecido como Indústria 4.0, baseada em conhecimento, integração de processos, conectividade e inteligência artificial.
Fonte: O Estado de S. Paulo – 06.08.2018