Brasil tem potencial para ser protagonista em mercado de terras raras

Brasil tem potencial para ser protagonista em mercado de terras raras

Listadas como essenciais por governos da Austrália, Estados Unidos, países da União Europeia, Canadá e Reino Unido, devido a sua importância estratégica e econômica na transição para energias renováveis e em aplicações consideradas de segurança nacional, as terras raras representam para o Brasil uma oportunidade para o País se tornar protagonista no mercado mundial de exploração desses minério tão disputados.

Companhias desses paísesvêm recebendo estímulos tanto para tanto investir em extração quanto na tecnologia de separação e refino, atualmente controlada por grupos chineses. E o Brasil tem potencial para se tornar uma plataforma de produção mundial no Ocidente, diz Frederico Bedran, especialista em mineração, com passagem por órgãos de governo federal no setor, e sócio do Caputo, Bastos e Serra Advogados. “O desafio é aproveitar essa janela de oportunidade”, afirma.

Da produção de elementos de terras raras (ETR) no mundo em 2024, de 390 mil toneladas de óxidos contidos, a China liderou com 270 mil, seguida por EUA, com 45 mil. Outros produtores relevantes são Austrália, Índia e Myanmar.

Das reservas conhecidas do minério, 130 milhões de toneladas, China, Brasil, Índia e Austrália detêm 60%, conforme dados de 2024 do U.S. Geological Survey (USGS, na sigla em inglês).

Bedran diz que o diferencial do Brasil são os grandes depósitos minerais de argilas iônicas, descobertos em 2022. Antes, as terras raras eram exploradas de rochas, de custo maior. “O grande salto é receber investimentos, além da mineração, nas fases de separação, para não se limitar a ser um exortador de concentrado.”

O especialista conta que no Ocidente já começam a surgir refinarias de terras raras na Eu

“O grande salto é receber investimentos, além da mineração, nas fases de separação, para não se limitar a vender apenas material concentrado”

Frederico Bedran

Especialista em mineração

ropa (por exemplo, Estônia e França), e nos EUA. “É importante o governo brasileiro ter uma política para atrair esses projetos com foco na agregação de valor do minério.”

Diretor executivo da australiana Meteoric, que, com o projeto batizado de Caldeira, detém concessão de 69 áreas nos municípios de Poços de Caldas, Caldas e Andradas, em Minas Gerais, Marcelo de Carvalho ressalta que o Brasil tem a oportunidade de criar um mercado novo no Ocidente, que faça frente ao único existente hoje, o da China. “É uma alternativa de suprimento de ETR, com verticalização de parte da cadeia de produção, fazendo a separação dos óxidos”, diz.

Bedran ressalta que o País tem os recursos de terras raras e de outros minerais críticos, mas é necessário ter uma política para fazê-los sair do chão e gerar riqueza. Para ele, é possível o Brasil se transformar em grande produtor global com as reservas que tem, com 20% a 25% do mercado de neodímio, praseodímio, disprósio e térbio, os quatro principais ETR.

Segundo informações de consultorias especializadas e do governo da Austrália, a demanda global por ímãs permanentes de terras raras aumentará a uma taxa anual de 8,6% entre 2022 e 2035, puxada principalmente por veículos elétricos.

MINA DE CLASSE MUNDIAL.

O diretor executivo da Meteoric diz que a fase final de estudos de viabilidade do projeto em Caldas vai até junho de 2026, quando os acionistas vão tomar a decisão de investimento. O minério prospectado – argilas iônicas – abrange uma área de 193 km². “Nossos números mostram que Caldeira é um projeto de classe mundial.”

Segundo Carvalho, dados recentes indicaram recursos minerais de 1,5 bilhão de toneladas, com elevado teor de óxidos de ETR. O projeto prevê começar com extração de 6 milhões de toneladas de minério por ano, gerando 13,6 mil toneladas de concentrado de carbonato misto de óxidos.

A Meteoric recebeu no mês passado uma injeção de capital de 42,5 milhões de dólares australianos de investidores de diversos países. Com isso, os aportes no projeto já somam US$ 80 milhões.

Mais cobiçados no mundo atualmente, os principais elementos de terras raras no minério da Meteoric são neodímio, praseodímio, disprósio e térbio. Carvalho conta que os quatro vão representar cerca de 90% da receita prevista da mineradora quando estiver operando à plena capacidade, a partir de 2028. O minério é encontrado em até 30 metros de profundidade.

O volume de produção de concentrado vai representar 8% da demanda mundial de óxidos de terras raras. A quantidade de neodímio e praseodímio (4,228 toneladas), qualificados como metais leves, vai equivaler a 7% desse mercado. A mineradora prevê uma expansão, em 2030, para 20 mil toneladas de concentrado.

Na fase inicial, a previsão de receita anual, segundo apresentação a investidores em julho, é de US$ 245 milhões, com base em preços no mercado spot (US$ 60 o quilo). Em um cenário de US$ 110 o quilo de óxidos de neodímio e praseodímio, a receita pode ir a US$ 385 milhões.

Os quatro metais detectados nas jazidas de Caldas são essenciais para fabricação de ímãs supermagnéticos, usados em motores elétricos, turbinas eólicas, equipamentos de defesa entre outras aplicações em produtos de alta tecnologia.

CONTRATOS.

Carvalho informa que a Meteoric já tem contratos de fornecimento firmados com duas companhias. Uma delas, a canadense Ucore Rare Metals, tem instalações de extração, beneficiamento e separação no Canadá e no EUA, no Estado de Louisiana. A unidade americana vai se concentrar em materiais magnéticos pesados, como térbio e samário, além de refinar praseodímio e neodímio.

O outro contrato é com a canadense Neo Performance Materials, que opera uma unidade de separação e refino de óxidos de terras raras na Estônia. A tecnologia da Neo parte do concentrado de carbonato de óxidos e vai até a produção de imãs permanentes.

Carvalho afirma que um indicador da corrida dos EUA é o acordo firmado pela MP Materials, da Califórnia, única produtora de terras raras totalmente integrada do país, com o Departamento de Defesa americano para fornecer imãs. Dá garantia de compra de dez anos, com preço mínimo estabelecido na faixa de US$ 110 o quilo. A MP opera desde a mineração e processamento até a metalização avançada e fabricação de ímãs permanentes.

Até outubro, a Meteoric espera receber a licença prévia do órgão ambiental de Minas Gerais para o projeto. E conta com a emissão da licença de instalação em junho de 2026 para iniciar as obras no site da futura mina e começar a produzir em 2028.

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20250817/textview

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