Vendas para os EUA recuam 37,9%

Vendas para os EUA recuam 37,9%

Vendas ao mercado americano tiveram o menor volume desde 2020, em consequência do tarifaço, e ficaram em US$ 2,2 bilhões. Ainda assim, o superávit total do Brasil no mês saltou 70%, com impulso da China.

Diante do tarifaço imposto pelo governo Trump, as exportações brasileiras para os Estados Unidos caíram 37,9% em outubro, na comparação com o mesmo mês de 2024, totalizando US$ 2,217 bilhões. Trata-se do menor volume desde 2020, de acordo com balanço divulgado ontem pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Foi a terceira queda consecutiva nas vendas aos EUA, neste que foi o terceiro mês de vigência da alíquota de 50% aplicada por Trump ao País. No ano, as vendas de produtos brasileiros aos EUA caíram 4,5%, somando US$ 31,460 bilhões, ante US$ 32,949 bilhões no mesmo período de 2024.

Já as importações de produtos americanos cresceram 9,6% em outubro, na comparação mensal, e 11,6% no acumulado do ano. Nesse período, a balança comercial com os EUA apresentou déficit de US$ 6,84 bilhões.

Ao mesmo tempo, o Brasil aumentou seu volume de negócios com outros parceiros comerciais como a China. Pelos dados da secretaria, as exportações brasileiras para a China cresceram 33,4% em outubro, somando US$ 9,209 bilhões. Nos dez primeiros meses do ano, as vendas para o país asiático cresceram 1,7%, totalizando US$ 84,733 bilhões. Pelo lado das importações, houve queda de 3,2% nas compras vindas da China em outubro (US$ 6,438 bilhões) e alta de 13% (US$ 59,852 bilhões) no acumulado do ano.

Considerando o volume total de transações, a balança comercial brasileira teve superávit comercial de US$ 6,964 bilhões em outubro, com aumento de 70% em relação ao mesmo mês de 2024. As exportações no período somaram US$ 31,97 bilhões (alta anual de 9,1%), enquanto as importações ficaram em US$ 25 bilhões (queda de 0,8%).

‘EFEITOS DIVERSOS’. No caso das operações com os EUA, o diretor do Departamento de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Herlon Brandão, acredita que “efeitos diversos” explicam o resultado. Segundo ele, os números também podem ser reflexo da menor demanda dos consumidores americanos em razão dos choques tarifários.

“Possivelmente, não é só um efeito direto de tarifa sobre os produtos brasileiros que faz com que a redução aconteça, pois, mesmo produtos que não foram tarifados ou que continuam com tarifa zero, caíram nas exportações aos Estados Unidos”, disse ele. Entre esses produtos, ele citou combustíveis, celulose e ferro-gusa.

Trump chegou a citar questões econômicas, como um suposto déficit com o Brasil (inexistente de acordo com números oficiais), para justificar o tarifaço. Ele também relacionou o aumento de tarifas ao processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal e a “direitos de liberdade de expressão” de empresas americanas. A política tarifária americana, que atingiu os maiores parceiros comerciais dos EUA, está agora sob julgamento na Suprema Corte do país ( mais informações na pág. B2).

Em setembro, numa aproximação concreta, Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tiveram reunião, o que foi visto como uma oportunidade para negociar a revogação do tarifaço. Apesar da aproximação, os EUA ainda não reviram nenhuma de suas tarifas.

Em nota, a Amcham Brasil diz que a redução de comércio entre Brasil e EUA tem impacto em “cadeias produtivas integradas, investimentos e empregos em ambas as economias”. “É essencial que o valioso impulso político gerado pelo recente encontro entre os presidentes Lula e Trump seja aproveitado para alavancar avanços concretos nas negociações entre os dois países”, disse o presidente da entidade, Abrão Neto. •

“É essencial que o valioso impulso político gerado pelo recente encontro entre os presidentes Lula e Trump seja aproveitado para alavancar avanços concretos nas negociações entre os dois países”

Abrão Neto Presidente da Amcham Brasil

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20251107/page/21/textview