O apagão de mão de obra
Já houve tempo em que os mutirões com vagas de emprego tinham filas quilométricas de trabalhadores que ali passavam a noite para conquistar um emprego. Hoje, há mais vagas do que candidatos.
O “apagão de mão de obra” já compromete o funcionamento e a expansão de muitos negócios nos setores do comércio, serviços, indústrias, agro e construção – o que conspira contra o crescimento das empresas e da economia brasileira.
O Brasil sempre teve carência de pessoal qualificado. Mas, atualmente, a carência é também por pessoal não qualificado, mesmo mediante a oferta de salários superiores à média do que é fixado nos acordos e convenções coletivas de trabalho.
Fala-se muito na concorrência dos programas de transferência de renda, em especial, do Bolsa Família. De fato. É preocupante saber que em 13 Estados, o consumo é mantido mais pelos recursos assistenciais do que pelos salários dos trabalhadores.
Isso ocorre com mais frequência com os trabalhadores de salários mais baixos e que combinam vários benefícios assistenciais. No conjunto, eles geram mais renda do que obteriam trabalhando. Nas faixas dos salários mais altos, perdura a crônica falta de pessoal qualificado para atender
Vários fatores se conjugam para formar uma verdadeira ‘tempestade perfeita’ de falta de mão de obra
às necessidades de empresas que se sofisticam tecnológica e administrativamente. Nesse campo, tem crescido a prática de uma verdadeira “pirataria” em que uma empresa seduz os empregados de outra ao oferecer melhor salário e bons benefícios.
Ou seja, não se pode atribuir toda a falta de mão de obra à concorrência dos programas assistenciais. As causas são múltiplas. Vários fatores se conjugam para formar uma verdadeira “tempestade perfeita” de falta de mão de obra. Dentre eles, está a forte redução da taxa de fecundidade das últimas décadas, que está diminuindo a proporção de jovens que podem trabalhar. Essa mudança veio para ficar.
Conta também a inclinação das pessoas que desejam trabalhar de forma autônoma e sem as amarras do emprego convencional. Essa hipótese tem respaldo na disparada do número de empreendedores individuais (MEIs). A prática do trabalho remoto durante a pandemia reforçou o anseio por liberdade e independência.
Há também outro fator. A falta de mão de obra tem sido agravada pela explosão do consumo derivado da farra fiscal. Mas, essa é uma força que deve desaparecer. Afinal, toda artificialidade tem vida curta.
FONTE: O Estado de São Paulo
