Brasil e Colômbia não renovam acordo automotivo

A Colômbia não aceitou prorrogar o acordo automotivo com o Brasil, que venceu ontem, e isso vai afetar as exportações para o terceiro maior mercado de automóveis brasileiros no exterior.
Em 2024, o Brasil vendeu US$ 750 milhões em carros de passeio e picapes para a Colômbia, mercado que fica atrás apenas de Argentina e México. Com o acordo automotivo, firmado em 2017, o Brasil vendia ao país vizinho até 50 mil unidades por ano com tarifa zero. Agora, essas vendas serão taxadas em 16,1%.
Em setembro passado, a Colômbia informou o Brasil de que não tinha interesse em prorrogar o acordo, mas o governo brasileiro iniciou uma série de tratativas com o objetivo de contornar o problema.
Em agosto, durante a cúpula dos países amazônicos em Bogotá, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega colombiano, Gustavo Petro, chegaram a tratar do assunto. Desse encontro, saiu a informação de que o acordo poderia ser estendido por mais um ano até que os dois países chegassem a um consenso.
Na semana passada, porém, em reunião de equipes técnicas em Brasília, os representantes colombianos fizeram uma contraproposta considerada inaceitável pelo setor produtivo brasileiro: reduzir a cota para 20 mil veículos por ano, além de assumir o controle unilateral sobre como administrar a entrada desses veículos.
A resposta pegou as equipes brasileiras de surpresa, uma vez que o intuito do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), chefiado por Geraldo Alckmin, e do Itamaraty era ganhar tempo e convencer a Colômbia a avançar para um tratado de livre-comércio – no qual um conjunto mais amplo de mercadorias e serviços tem taxação zerada de ambos os lados.
DESCONFIANÇA. O setor privado brasileiro desconfia que a Colômbia esteja fechando a porta para o produto brasileiro para dar preferência a veículos chineses, sul-coreanos e americanos. O país já tem acordo de livre-comércio com EUA, Coreia do Sul e União Europeia.
Com a China, a Colômbia mantém um acordo de cooperação comercial. Todos esses países são grandes produtores de veículos e potenciais controladores de um mercado até aqui prioritariamente brasileiro.
A notícia é negativa também por deixar o Brasil ainda mais dependente das vendas para a Argentina, que já respondem por 60% das exportações de veículos do Brasil, em um momento de incerteza sobre o que acontecerá na economia do país vizinho.
Segundo o Mdic, neste ano o Brasil já vendeu para a Colômbia 38.385 veículos dentro da cota e, pelo tratado agora encerrado, poderá vender os 11.615 veículos que restam da cota até o fim de 2026.
Questionado pelo Estadão sobre o fim do prazo de negociação, o Mdic disse que “o governo colombiano manifestou o interesse de descontinuar o Entendimento Automotivo Bilateral, firmado em 2017”.
“O governo brasileiro manteve articulação com o setor privado brasileiro, realizou inúmeras reuniões bilaterais com o governo colombiano e apresentou propostas que viabilizassem um novo entendimento mutuamente benéfico, mas o desejo colombiano se manteve. Por isso, apesar dos esforços brasileiros, até as vésperas do prazo final, não foi possível chegar a um novo acordo”, acrescentou.
Participantes das tentativas de acordo dizem que o governo de Gustavo Petro assumiu um tom de desconfiança e rejeição durante todo o processo de diálogo, rejeitando de antemão qualquer sinalização para avançar num tratado de livrecomércio.
Como gesto para abrir a negociação, o Brasil cogitou tratar do comércio de outros produtos, com o intuito de chegar a um acordo, mas a iniciativa não prosperou.
Apesar de Lula e Petro serem identificados como políticos de esquerda, os dois presidentes não se entenderam novamente na cúpula dos países amazônicos, em agosto, sobre a exploração de combustíveis fósseis na região. Com o encerramento abrupto do acordo automotivo, após uma indicação de que poderia haver a extensão por um ano, trata-se da segunda divergência entre os dois países em dois meses.
FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20251001/page/29/textview