Aço: a proteção que sufoca a indústria nacional

Thais Fagury Presidente-executiva da Associação Brasileira da Embalagem de Aço (Abeaço)
Ogoverno brasileiro, em sua busca por proteger a indústria nacional, trilha um caminho perigoso, capaz de sufocar setores inteiros em nome do benefício a um monopólio. A decisão de sobretaxar, de forma provisória e precipitada, folhas de aço importadas da China para embalagens, sob alegação de dumping, exemplifica essa distorção. A medida, embora parta de uma investigação legítima solicitada pela
CSN, impõe custos antes mesmo da conclusão do processo, gerando um desequilíbrio alarmante.
Dado relevante é que o setor de folhas metálicas da CSN emprega cerca de 600 pessoas e representa menos de 7% de seus negócios, enquanto a indústria de embalagens de aço – composta por dezenas de empresas, muitas centenárias e familiares, gerando 25 mil empregos diretos – é sacrificada. Qual a verdadeira “indústria nacional” que carece de proteção?
O desequilíbrio no diálogo agrava o cenário. O Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Serviços (Mdic) recebeu a CSN mais de dez vezes, enquanto o setor de embalagens de aço foi ouvido, a duras penas, três vezes. Somase a isso um conflito de interesses inaceitável: a CSN, além de fornecedora, é também fabricante de latas de aço, competindo diretamente com seus próprios clientes.
O ponto crucial para a eco
Forçar empresas a usarem insumo nacional e sobretaxar fragiliza competitividade e aumenta preços
nomia nacional reside na composição de custos. As folhas metálicas de aço podem representar até 70% do custo de produção das latas, e as embalagens, em média, 20% do custo dos alimentos enlatados, podendo ultrapassar 25% em produtos como a sardinha. Essa estrutura de custos torna o setor particularmente vulnerável à sobretaxa.
A sobretaxa impacta diretamente as famílias de baixa renda, pois atinge produtos da cesta básica. Estima-se um aumento de até 7,4% no custo de produção e quase 5% no preço final para o consumidor, com um preço total de R$ 4,3 bilhões em cinco anos para 72 milhões de famílias.
Em um momento em que o Brasil almeja a reindustrialização e a inserção competitiva nas cadeias globais, medidas como essa representam um retrocesso. A competitividade não se constrói com barreiras. O setor de embalagens não se opõe à investigação do aço chinês; defende a proteção comercial justa. Inaceitável é sacrificar o todo para proteger uma ínfima parte.
A defesa do Brasil não deve significar a defesa de monopólios que sacrificam empregos, competitividade, preços de alimentos e o meio ambiente; essa proteção seletiva enfraquece quem investe no País. É imperativo que a racionalidade econômica e social se sobreponha a interesses particulares, garantindo políticas públicas que beneficiem a todos, e não apenas a poucos.
FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20250826/page/26/textview