Setores mais atingidos por taxas dos EUA fazem as contas e buscam novos mercados

Setores mais atingidos por taxas dos EUA fazem as contas e buscam novos mercados

No agronegócio, os produtos mais sujeitos ao tarifaço, por ordem de importância, são café, carnes e sucos. Setor de máquinas e equipamentos também foi afetado.

A agroindústria brasileira será o setor mais impactado pelo tarifaço de Donald Trump, previsto para entrar em vigor hoje. Além do peso do agronegócio na economia nacional, essa perspectiva é puxada pela quantidade de áreas que não mereceram isenções na ordem executiva assinada pelo republicano, no dia 30 de julho. Outro segmento bastante afetado será o de máquinas e equipamentos, segundo especialistas.

No agro, os produtos sujeitos ao tarifaço por ordem de importância na pauta de exportações são café, carnes e sucos, segundo levantamento da BMJ Consultores Associados. Somados, dez produtos representaram vendas de US$ 5,4 bilhões aos EUA neste ano. Segundo a BMJ, o tarifaço afetará quase 83% das exportações brasileiras de produtos agrícolas em 2025.

São tantos subsegmentos sobretaxados dentro da agroindústria que áreas como pescados, mel e produtos apícolas ficaram fora da lista dos maiores pesos na balança comercial brasileira elaborada pela BMJ. “Apesar de terem os EUA como seu principal mercado exportador e empregarem bastante, pescados e produtores de mel são pequenos em termos de receita para um universo de mais de US$ 40 bilhões exportados por ano”, diz Josemar Franco, gerente de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados.

Para ele, o fato de os EUA não terem colocado café e carne na lista de produtos isentos faz parte da estratégia americana. “Se todos os produtos importantes tivessem sido excluídos, os EUA ficariam sem ferramentas de negociação.”

João Carmo, economista da consultoria 4Intelligence, diz que, apesar de serem bastante impactados, esses dois segmentos tendem a sentir menos a sobretaxa, uma vez que eles são menos dependentes dos EUA. Em 2024, o país absorveu 16% das vendas de café do Brasil ao exterior e menos de 10% das de carne bovina. “Como grande competidor internacional e com poder de barganha, o Brasil deve encontrar outros destinos para esses produtos”, diz ele.

Prova disso, afirma, é que desde abril – quando os EUA impuseram a tarifa de 10% sobre todos os produtos globais – as importações americanas do Brasil diminuíram, mas as exportações totais brasileiras não arrefeceram na mesma proporção. “Alguma perda, porém, será inevitável”, diz.

Em relação a máquinas e equipamentos, a expectativa é menos otimista. Mais da metade dos produtos de instalações e equipamentos de engenharia civil exportados pelo Brasil, por exemplo, é destinada aos EUA. O comércio com aquele país superou os US$ 2 bilhões apenas este ano. “São produtos muito mais difíceis de serem redirecionados”, diz Carmo.

Setores que ficaram fora da lista de isenções continuam buscando alternativas:

CAFÉ. O café foi um dos primeiros setores a dizer que seguiria na mesa de negociações com seus pares nos EUA. Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o produto brasileiro representa uma fatia superior a 30% do mercado americano, sendo que o Brasil é o principal fornecedor do insumo aos EUA.

Ao mesmo tempo, os exportadores têm avançado em outros mercados. No mesmo dia em que os Estados Unidos assinaram a ordem que oficializou o tarifaço contra o Brasil, a China habilitou 183 novas empresas brasileiras de café a exportar o produto para o país.

CARNE. Além das negociações por vias tradicionais, a carne tem contado com o apoio de pequenos consumidores. Na segundafeira, a Associação Nacional de Restaurantes dos Estados Unidos, que representa 500 mil estabelecimentos no país, pediu isenção de tarifas para produtos como o café e a carne brasileiros.

Além disso, parte das vendas aos EUA (que já diminuíram em função das tarifas de 10% impostas em abril) está seguindo para outros mercados. O volume de compras do México, por exemplo, aumentou 420% de janeiro a junho em relação ao mesmo período do ano passado, de 3,1 mil para 16,1 mil toneladas.

A China, responsável por quase metade das exportações brasileiras, também aumentou o volume de compras. Ao todo, foram 134 mil toneladas em junho, ou US$ 740 milhões. O crescimento em relação a janeiro foi de 64%.

AÇÚCAR. No setor de açúcar, algumas empresas têm dito que será difícil manter a operação. Porém, as negociações continuam. O Brasil é tradicionalmente responsável por 150 mil toneladas da cota de açúcar bruto com isenção tarifária, volume que costuma ser ampliado anualmente para cerca de 200 mil a 220 mil toneladas. “Como o Brasil sempre cumpre prazos e tem oferta, eles ( os EUA) nos chamam quando outros países não conseguem embarcar”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio), Renato Cunha. A cota total dos EUA é hoje de cerca de 1,1 milhão de toneladas, dividida entre 39 países. •

Impacto

Segundo estudo, tarifaço afetará quase 83% das exportações brasileiras de produtos agrícolas.

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20250806/281977498690831/textview

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