Eleição na Fiesp encaminha a volta de Skaf

Paulo Skaf é – quase – o novo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Será seu quinto mandato. Prevista para hoje, a eleição tem uma única chapa. À frente do grupo, Skaf conta com o apoio de quase todos os sindicatos industriais que votarão na eleição sem disputa e dos quais manteve proximidade mesmo durante a gestão do atual presidente, Josué Gomes da Silva.
Skaf esteve à frente da entidade patronal do Estado com maior peso na indústria do País entre 2004 e 2021. Se completar o novo mandato (entre 2026 e 2029), que se inicia em janeiro, terá ficado 21 anos à frente da Fiesp. Procurado, Skaf disse que, por respeito ao processo eleitoral, não concederia entrevistas até ser efetivamente alçado ao cargo.
Se das outras vezes em que assumiu o comando da Fiesp o cenário já era desafiador, com a indústria de transformação perdendo participação no PIB e a manufatura paulista puxando essa queda, desta vez o setor atravessa um momento de inflexão. Segundo especialistas, a indústria global vive um período de intensas transformações, em frentes que vão da adoção da inteligência artificial – que chega até ao chão de fábrica e permite um salto inédito na produtividade – às mudanças geopolíticas globais.
E, no caso brasileiro, esse cenário já complexo ainda ganhou uma complicação extra recentemente com a guerra tarifária promovida pelo presidente americano. Donald Trump, que anunciou tarifas de até 50% para produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos, atingindo parte da indústria paulista e brasileira.
Para os analistas, essa é a hora em que cabe à Fiesp – e também às outras federações e entidades ligadas à indústria, além do próprio governo – agir de maneira diferente. Em vez de se unirem no modelo que chamam de “old school”, e que segundo eles é muito focado em pedidos de subsídios ou em temas que acabam significando mais protecionismo, seria o momento de dar escala à pauta de inovação e dos ganhos de produtividade, que segue estagnada. Um avanço nessas áreas seria fundamental para uma maior inserção da indústria nas cadeias globais.
“Parte da culpa do fracasso da indústria, é da própria indústria”, diz o economista Marcos Lisboa. “Suas lideranças não defendem inovação ou a disputa em alto nível nos mercados globais, mas se limitam a pedir subsídios, proteção e intervenção estatal.”
Para Lisboa, o setor privado “deu o azar de ter um Estado muito sensível às suas demandas e que atende a interesses oportunistas, o que leva ao fracasso da própria indústria”. “Nenhuma indústria se torna de categoria mundial com mesadas do Estado”, diz. “Com honrosas exceções, grande parte do setor é dominada pela prática do patrimonialismo brasileiro.”
Glauco Arbix, professor do Departamento de Sociologia da USP e pesquisador do Centro de Inteligência Artificial (USP/Fapesp/IBM), diz que, do mesmo modo que o Brasil está preso na armadilha da renda média, a indústria nacional está presa à arapuca da baixa e média tecnologia. “A indústria brasileira está atrasada”, diz. “Há uma transformação gigantesca na manufatura em andamento, com uma janela de oportunidade que vem se fechando.”
Para o ex-presidente da Fiesp Horácio Lafer Piva, “a indústria não voltará à participação que já teve no PIB, mas poderá ter ainda extraordinária importância num conceito de ampliação e extensão, com finanças, serviços e logística”, diz. “Pode, precisa e deve.” •
“A indústria brasileira está atrasada. Há uma transformação gigantesca na manufatura em andamento, com uma janela de oportunidade que vem se fechando”
Glauco Arbix
Professor do Departamento de Sociologia da USP
Fonte: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20250804/281943138948226/textview