Desindustrialização e queda da produtividade

Desindustrialização e queda da produtividade

Cláudio Adilson Gonçalez Economista, diretor-presidente da Vértice Macroeconomia, foi consultor do Banco Mundial, subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda

Arenda per capita brasileira nos últimos 30 anos (incluindo minha projeção de crescimento do PIB, em 2025, de 2,2%) registrou crescimento médio anual de 1,3%. Se essa taxa média se mantiver no médio e no longo prazos, para dobrar a renda per capita e chegarmos perto dos níveis vigentes hoje na União Europeia seriam necessários mais de 50 anos. Esse desempenho fraco é, principalmente, consequência do baixo crescimento da produtividade do trabalho.

Há vários motivos que explicam isso, mas neste artigo quero chamar a atenção para um ponto poucas vezes mencionado: a desindustrialização precoce. Há uma profusão de trabalhos que analisam as causas da baixa produtividade da indústria manufatureira brasileira. Mas aqui estou invertendo a relação de causalidade, ou seja, meu foco é na desindustrialização como uma causa importante da baixa produtividade da economia como um todo.

Com o desenvolvimento econômico, é natural que as manufaturas percam participação na economia, uma vez que, conforme enriquece, a sociedade tende a consumir proporcionalmente cada vez mais serviços. Mas a rapidez e a precocidade da desindustrialização no Brasil impressionam: a preços correntes, em meados da década

Para acelerar o crescimento da renda ‘per capita’, é imperativo que o Brasil revigore sua indústria

de 1980, as manufaturas correspondiam a cerca de 35% do valor adicionado do PIB; em 2024, dados preliminares indicam que essa participação está em torno de 14%. Ou seja, o Brasil se desindustrializou antes de sair da chamada armadilha da renda média.

Os avanços tecnológicos, ou seja, a modernização dos processos produtivos – inclusive por meio da tecnologia da informação e, em breve, com a inteligência artificial –, aumentam mais intensamente a produtividade no setor industrial do que no de serviços. É mais fácil robotizar uma fábrica do que serviços de educação e saúde, por exemplo. Assim, para acelerar o crescimento da renda per capita, é imperativo que o Brasil revigore sua indústria.

Temos de acabar com o tabu de que política industrial é coisa da esquerda, e pensarmos em ações que ajudem a indústria brasileira a sair do ostracismo. Não se trata de protecionismo ou de balcão de negócios. A reindustrialização não pode prescindir da estabilidade macroeconômica e de maior racionalidade tributária, mas há, sim, espaço para a atuação de um banco de fomento, como o BNDES.

O programa Nova Indústria Brasil (NIB), lançado pelo governo federal em janeiro de 2024, precisa ser revisto, mas não extinto. Repete alguns erros do passado, como priorizar a indústria naval e o refino de petróleo. Também não estão claras as métricas que serão usadas para avaliação do cumprimento ou não das metas. Isso é importante porque a política industrial precisa ser temporária. Os estímulos devem ser extintos quando não deram certo, mas também quando as metas foram atingidas e os setores beneficiados já puderem andar com as próprias pernas.

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20250609/page/26/textview

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