Taxação é vista como ameaça à indústria e oportunidade ao agronegócio

Taxação é vista como ameaça à indústria e oportunidade ao agronegócio

O tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump pode representar ameaça à indústria e oportunidade ao agronegócio brasileiro, na visão de Renê Medrado, sócio e especialista em comércio internacional e direito aduaneiro do escritório Pinheiro Neto Advogados. “O Brasil é um forte candidato para receber essas exportações (que não terão mais os EUA como destino, devido à taxação excessiva, dependendo da origem), porque tem um mercado consumidor relevante.”

Há o risco de uma enxurrada de produtos baratos sendo trazidos para o País, o que pode ameaçar setores industriais, como já aconteceu quando a China passou a vender fortemente pneus, painéis solares e aço no Brasil a preços muito inferiores aos da produção local.

Por outro lado, commodities agrícolas têm potencial para fazer o caminho inverso. Com a possível resposta da China de restringir a importação de produtos agrícolas americanos, o Brasil pode ocupar mais espaços nas vendas para a Ásia. “A pauta brasileira concorre com o produto americano, como em soja e proteína animal. O Brasil pode abrir exportações para o Japão, que pode passar a comprar o produto brasileiro como forma de proteção para o fornecimento americano”, afirma o advogado especialista em comércio internacional Rodrigo Pupo, do escritório MPA Trade Law.

“O Brasil tem buscado construir relações mais sólidas com a União Europeia, com a China e com o Japão”, afirma Carlos Fadigas, fundador da consultoria CF Partners. Ele afirma que o País poderá obter vantagens e desvantagens. “Ainda assim, o País tende a colher mais benefícios do que prejuízos.” Ele diz que o Brasil manterá acesso à maior economia do mundo com tarifas, em média, menores do que as aplicadas a outros países – especialmente a China.

Fadigas avalia que exportadores brasileiros com foco na China – que vão desde o minério de ferro até o frango, passando pela soja – tendem a se beneficiar de um aumento no fluxo de comércio com a Ásia. “Desde o início do governo Trump, a China vem intensificando sua aproximação com a América Latina, especialmente com o Brasil.”

INFLAÇÃO. Como as redes de comércio e os seus efeitos são bastante complexos, mesmo notícias negativas, como uma possível invasão de produtos chineses no Brasil, pode trazer benefício de curto prazo. “Depois da questão fiscal, o tema que mais assola o País e prejudica a popularidade do governo é a inflação, que obriga a juros mais altos. Pode ser conveniente ao Brasil permitir a importação de produtos baratos. Acho que a resposta inicial do País vai ser quieta no começo”, diz economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato. Num segundo momento, a expectativa é a de que essa superoferta global se ajuste, defende o economista. “As empresas não vão ficar olhando uma queda global da demanda, e então vão cortar a produção. Deve ocorrer um equilíbrio para uma demanda global menor, com um choque de oferta clássico.”

No setor de vestuário, que deve ser um dos mais afetados no mundo, e que tem forte produção em Bangladesh e Vietnã, é relativamente simples fazer uma mudança para os EUA ou baixar o volume de fabricação. Já em outros, o reequilíbrio de oferta é mais complicado, como na siderurgia, que exige ciclos de investimentos de anos.

Mão dupla Produtos asiáticos baratos podem ameaçar indústria; itens agrícolas podem fazer caminho inverso

Quanto ao risco da chegada de produtos de menor custo vindos da Ásia, o Brasil pode ter formas de se defender. “Isso pode afetar a competitividade dos nacionais. Porém, o Brasil dispõe de mecanismos para mitigar esses impactos, como a aplicação de medidas antidumping e o uso seletivo e criterioso de tarifas, capazes de proteger os setores mais vulneráveis da economia nacional”, diz Fadigas.

O cálculo de benefício líquido para o Brasil, diz Medrado, do escritório Pinheiro Neto, tem de ser feito setor a setor e vai exigir muita estatística e observação empírica a respeito do desenvolvimento desses mercados. “É uma análise bem econômica, porque precisa comparar fluxos comerciais por produto, com os países concorrentes.”

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20250406/page/32/textview

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