Inflação de fevereiro vai a 1,31%, mais alta para o mês em 22 anos

A inflação de fevereiro foi de 1,31%, pior resultado para o mês desde 2003, quando a taxa atingiu 1,57%. Com os dados divulgados ontem pelo IBGE, a inflação acumulada em 12 meses subiu para 5,06%, distanciando-se ainda mais do centro da meta perseguida pelo Banco Central (de 3%) e também do seu teto (4,5%). O índice do mês passado foi puxado sobretudo pelo reajuste das contas de luz e das mensalidades escolares. Mas o preço dos alimentos, que tem causado severo estrago na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também voltou a subir, com destaque para o ovo e o café. Em fevereiro, o café moído subiu 10,77%. O ovo de galinha aumentou 15,39%, a maior variação mensal desde o lançamento do Plano Real.
A variação de preços das contas de luz e os reajustes sazonais de mensalidades escolares pressionaram a inflação em fevereiro, que bateu em 1,31%, ante 0,16% em janeiro. Foi o pior resultado para o mês desde 2003 (1,57%). Os alimentos também voltaram a subir, com destaque para o ovo e o café, que registraram altas de dois dígitos.
Pelos dados divulgados ontem pelo IBGE, a taxa acumulada em 12 meses passou de 4,56%, em janeiro, para 5,06% em fevereiro, a mais alta desde setembro de 2023. O resultado ficou ainda mais longe do centro da meta da inflação (de 3%) e se afasta também do seu teto (4,5%). “( O resultado) Reforça a sinalização de manutenção do ritmo de alta de 1 ponto porcentual ( da taxa Selic) na reunião (do Comitê de Política Monetária do Banco Central) de março”, disse o economista-chefe da corretora de investimentos Monte Bravo, Luciano Costa.
Taxa em 12 meses passou de 4,56%, em janeiro, para 5,06%, a mais alta desde setembro de 2023
Os gastos das famílias brasileiras com Habitação tiveram elevação de 4,44% em fevereiro, uma contribuição de 0,65 ponto porcentual para a taxa do IPCA. Parte do grupo, a energia elétrica subiu 16,80%. A alta veio após a incorporação em janeiro de desconto resultante do saldo positivo da conta de comercialização da Itaipu Binacional (o chamado “bônus Itaipu”).
Já o grupo Educação teve um avanço de 4,70% em fevereiro, com impacto de 0,28 ponto para o índice geral. Neste caso, a maior contribuição veio do aumento de 5,69% nas mensalidades dos cursos regulares, por conta dos reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo. As variações mais agudas ocorreram no ensino f u n d a ment a l (7,51%), ensino médio (7,27%) e pré-escola (7,02%).
ALIMENTOS. Apontada como o principal motivo para a queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a alta da inflação levou o governo a anunciar na semana passada a redução do Imposto de Importação para alimentos como açúcar, café e carne – medida vista como inócua no curto prazo por especialistas. Ele também aposta na nova safra agrícola deste ano para tentar conter os preços dos alimentos.
Mas não foi o que se viu em fevereiro. Os alimentos voltaram a subir no mês passado, pelo sexto mês consecutivo, embora a alta tenha sido mais branda e menos espraiada, ficando concentrada em uma menor quantidade de itens, segundo Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE. O grupo Alimentação e Bebidas saiu de uma elevação de preços de 0,96%, em janeiro, para uma variação de 0,70%. Em fevereiro, porém, o encarecimento dos alimentos foi “basicamente do café e do ovo”, disse Gonçalves.
“O café vem sustentando alta ( de preços) desde janeiro de 2024. No ano de 2024, a alta do café foi de 39,60%. Nos dois primeiros meses de 2025, o café já subiu 20,25%”, citou o pesquisador. Só em fevereiro, o café moído subiu 10,77%.
Já o ovo de galinha aumentou 15,39%, maior variação mensal desde o início do Plano Real. Segundo Gonçalves, os Estados Unidos tiveram perdas do produto por causa de gripe aviária, levando a um aumento nas exportações brasileiras de ovos para o País. Além disso, houve maior demanda pelo item em função do início do ano, ao mesmo tempo que a ocorrência de um clima mais quente também prejudicou a produção de ovos.
Economista sênior do Banco ABC Brasil, Francisco Lima viu uma fotografia pior para a inflação doméstica, com sinais de alerta para os grupos de serviços e bens industriais. Ele descarta a perspectiva de melhora à frente nos aumentos de preços de serviços, devido ao mercado de trabalho ainda aquecido. Quanto ao encarecimento de produtos industriais, Lima nota influência da alta do dólar.
“É uma piora que reflete o repasse da desvalorização cambial do fim do ano passado. Geralmente, é um item que traz conforto para o IPCA, mas este ano deve contribuir negativamente para o índice”, previu. •
A inflação dos EUA desacelerou no mês passado pela primeira vez desde setembro e uma medida do núcleo de inflação (que exclui os itens mais voláteis) caiu para o nível mais baixo em quatro anos, apesar de as tarifas adicionais sobre aço e alumínio – que entraram em vigor ontem – sejam uma ameaça para os preços.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) foi a 2,8% em fevereiro, em base anualizada, de acordo com o relatório do Departamento do Trabalho americano divulgado ontem. É uma queda em relação aos 3% registrados no mês anterior. Os preços básicos, que excluem as categorias voláteis de alimentos e energia, aumentaram 3,1% em relação ao ano anterior, abaixo dos 3,3% registrados em janeiro. O valor é o mais baixo desde abril de 2021.
As quedas foram maiores do que os economistas esperavam, de acordo com uma pesquisa do provedor de dados FactSet. No entanto, os preços permanecem mais altos do que a meta de 2% do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). A inflação instável pode criar problemas para o presidente Donald Trump, que prometeu durante a campanha do ano passado “acabar com a inflação”.
Na base mensal, a inflação também ficou muito abaixo do esperado. Os preços ao consumidor aumentaram 0,2% em fevereiro em relação ao mês anterior, abaixo do 0,5% registrado em janeiro. E os preços básicos subiram apenas 0,2%, abaixo do aumento de 0,4% em janeiro.
Com cerco aos importados, expectativa é de que preços permaneçam elevados
Os preços dos alimentos permaneceram inalterados no mês passado em relação a janeiro, o que trouxe algum alívio para os consumidores que enfrentam um aumento de 25% nos preços dos alimentos em relação a quatro anos atrás. O custo dos ovos, entretanto, aumentou 10,4% em fevereiro em relação ao mês anterior e o produto está quase 60% mais caro do que há um ano.
A gripe aviária forçou os agricultores a abater mais de 160 milhões de aves. O preço médio dos ovos atingiu US$ 4,95 (R$ 28,80) a dúzia em fevereiro, um recorde. O preço estava consistentemente abaixo de US$ 2 (R$ 11,60) por dúzia há décadas, antes da doença.
E com Trump impondo – ou ameaçando impor – uma ampla gama de tarifas sobre as importações de Canadá, México, China, Europa e outros países, a maioria dos economistas prevê que o crescimento dos preços provavelmente permanecerá elevado este ano.
As tarifas agitaram os mercados financeiros e podem desacelerar drasticamente a economia, com alguns analistas elevando as apostas no risco de uma recessão. Muitos economistas esperam que a inflação caia este ano sem os impostos de importação, mas, com as tarifas, eles preveem que a inflação permanecerá elevada até o fim deste ano.
Trump prometeu impor tarifas recíprocas a todos os países que cobrarem impostos sobre as exportações dos EUA em 2 de abril. Os economistas do Yale Budget Lab calculam que essas tarifas, por si só, poderiam elevar a taxa tarifária média dos EUA ao seu nível mais alto desde 1937 e custar às famílias médias até US$ 3,4 mil (R$ 19,8 mil).
FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20250313/page/1/textview