‘Assim começam as recessões’, diz bilionário sobre cortes de Trump

O bilionário americano Mark Cuban alertou que os efeitos colaterais dos cortes maciços de gastos do governo federal poderão levar a economia dos Estados Unidos a uma recessão. Cuban, que tem fortuna estimada em US$ 5,7 bilhões, é um dos sócios do time de basquete Dallas Mavericks.
Numa postagem na rede Bluesky, em 2 de março, ele fez um comentário sobre prestadores de serviços que estão dispensando funcionários e cortando salários. “Esse é um problema maior do que as pessoas imaginam. Não apenas a perda de empregos. Mas suas famílias estão perdendo benefícios. Proprietários de imóveis perdendo inquilinos. Cidades e municípios perdendo receita. É assim que as recessões começam”, escreveu Cuban. “‘Preparar, apontar, fogo’ não é uma forma de governar.”
Desde esse aviso, os dados sobre o mercado de trabalho americano trouxeram alguns sinais de alerta. Na quarta-feira, pesquisa da empresa ADP sobre as folhas de pagamento do setor privado revelou que apenas 77 mil empregos foram criados em fevereiro, bem abaixo das expectativas de 148 mil e do ganho de 186 mil postos registrado em janeiro.
Os serviços de Educação e Saúde – setores expostos aos gastos do governo – registraram um declínio de 28 mil vagas. Enquanto isso, as empresas que seriam afetadas pelas tarifas do presidente Donald Trump registraram perda de 33 mil empregos.
“A incerteza política e a desaceleração nos gastos do consumidor podem ter levado a demissões ou a uma desaceleração nas contratações no mês passado”, disse a economista-chefe da ADP, Nela Richardson, no relatório. “Nossos dados, combinados com outros indicadores recentes, sugerem uma hesitação de contratação entre os empregadores à medida que eles avaliam o clima econômico à frente.”
DEMISSÕES. No dia 6, o relatório da Challenger, Gray & Christmas mostrou que os empregadores anunciaram 172 mil demissões em fevereiro, alta de 245% em relação a janeiro e o maior número desde julho de 2020. A empresa de recrutamento estimou que 62,2 mil, ou cerca de um terço dos cortes, poderiam ser atribuídos ao Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), comandado por Elon Musk.
“Com o impacto das ações do Doge, bem como de contratos governamentais cancelados, medo de guerras comerciais e falências, os cortes de empregos dispararam em fevereiro”, disse
Andrew Challenger, vice-presidente sênior da Challenger, Gray & Christmas, no relatório.
E na sexta-feira, 7, o Departamento do Trabalho informou um ganho de 151 mil empregos em fevereiro, abaixo das previsões de 170 mil. Embora as contratações ainda tenham sido sólidas, o relatório mostrou que o emprego no governo federal diminuiu em 10 mil postos.
“Não é apenas a perda de empregos. Mas as famílias estão perdendo benefícios. Proprietários de imóveis perdendo inquilinos. Cidades e municípios perdendo receita”
Entre esses últimos cortes, estava o do escritório 18F da General Services Administration, que desenvolvia softwares e tecnologia para os órgãos federais a fim de aumentar a eficiência.
Em outra publicação no Bluesky, Cuban incentivou os demitidos do 18F a criar uma empresa de consultoria e até se ofereceu para investir nela. “É apenas uma questão de tempo até que o Doge precise de vocês para consertar a bagunça que eles inevitavelmente criam”, disse. “Eles terão de contratar sua empresa para consertá-la. Mas em seus termos.”
Enquanto isso, outros dados econômicos estão sinalizando uma desaceleração, ou até mesmo uma retração total. O rastreador GDPNow, do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Atlanta, mostra que o primeiro trimestre está hoje no ritmo de uma contração de 2,4%, após sinalizar declínio de 1,5% na semana passada e de reverter o crescimento de 2,3% em 19 de fevereiro.
Em um artigo, os gurus do mercado Ed Yardeni e Eric Wallerstein disseram que ainda veem 55% de chance de um cenário parecido com os “loucos anos 20” (época de grandes avanços após a Primeira Guerra Mundial e a gripe espanhola), em que a economia dos EUA continua a crescer, impulsionada pela tecnologia. Mas aumentaram as chances de um mercado em baixa e de uma recessão induzida pela alta das tarifas de 20% para 35%.
“Ainda estamos apostando na resiliência dos consumidores e da economia”, alertaram. “No entanto, as turbulências do Trump 2.0 estão testando significativamente a resiliência de ambos.”
FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20250312/page/25/textview