Mercado dos EUA prevê corte maior no juro após dado ruim de emprego

Mercado dos EUA prevê corte maior no juro após dado ruim de emprego

O mercado de trabalho nos Estados Unidos esfriou além do esperado em julho, quando o furacão Beryl atingiu o sul do país, e pode forçar o Fed (o banco central local) a começar a reduzir os juros em uma intensidade maior, na visão de Wall Street. Bancos como o Citi passaram a prever um primeiro corte de 0,5 ponto porcentual, e não mais de 0,25 ponto, enquanto que, quem ainda não via setembro como a virada de chave na política monetária americana, caso do Bank of America, foi convencido disso.

Os EUA geraram 114 mil empregos em julho, abaixo do piso das expectativas de analistas consultados pelo Projeções Broadcast. A taxa de desemprego aumentou, o salário médio por hora cresceu abaixo do previsto e os dados de junho e maio foram revisados para baixo.

O dado dos empregos desencadeou uma reavaliação imediata nas expectativas do mercado quanto ao início do corte juros e azedou ainda mais o humor nas bolsas de Nova York, sob o temor de que o Fed tenha demorado muito para acionar a sua tesoura.

As chances de uma primeira queda maior em setembro, de 0,5 ponto porcentual, passaram de 80%, conforme a plataforma CME Group, que mede o humor do mercado americano. Por sua vez, a probabilidade de um corte de 0,25 ponto porcentual, até então majoritária, caiu para cerca de 18%, após o relatório.

“Agora esperamos que o Fed inicie o ciclo com cortes de 50 pontos-base (0,5 ponto porcentual) em setembro e novembro, seguidos por reduções de 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual) em cada reunião subsequente”, diz o Citi, em relatório a clientes.

Por sua vez, o Bank of America antecipou a sua expectativa de corte de juros, de dezembro para setembro, passando a prever duas reduções de taxas neste ano. “O emprego em julho foi fraco o suficiente para garantir um corte em setembro”, diz o time de economistas do banco americano, liderado por Michael Gapen.

Alguns economistas sugeriram que parte do resultado ruim do emprego de julho deveu-se ao furacão Beryl, que obrigou milhares de trabalhadores a cruzarem os braços por conta do mau tempo nas regiões atingidas. O Departamento do Trabalho nos EUA informou, porém, que não identificou um impacto “perceptível” da ocorrência climática no relatório do mês passado.

“Estamos um tanto céticos sobre isso (sobre a informação do Departamento do Trabalho) com base nas respostas de trabalhadores que não conseguiram emprego ou fizeram meio período devido ao clima”, diz o economista do banco americano Jefferies, Thomas Simons. Ele também mudou a sua projeção e passou a ver o Fed cortando os juros em setembro e, depois, em dezembro.

MUDANÇA DE SINAL. Enquanto o mercado se afunilou com apostas de queda nos juros para setembro, a intensidade do primeiro corte gera discordâncias e promete ser o novo cabo de guerra entre Wall Street e o BC americano – e também entre os próprios economistas. De um lado, alguns acham prematuro prever um Fed mais agressivo já na largada, e querem ver mais dados da inflação e do mercado de trabalho nos EUA. Outros veem riscos mais iminentes de uma possível recessão no país, o que daria combustível a um início de reduções mais agressivas.

“Estou altamente cético de que o Fed consideraria um corte de juros de 0,5 ponto porcentual em setembro”, diz o economista-chefe do Santander para os EUA, Stephen Stanley.

A rapidez com que o mercado se moveu para a expectativa de um corte de 0,5 no próximo mês surpreendeu até gurus de Wall Street. “Estou surpreso com a rapidez com que a narrativa do mercado mudou sobre o que o Federal Reserve deveria fazer”, escreveu o conselheiro econômico da Allianz, Mohamed El-Erian, em seu perfil no X (antigo Twitter). “Até ouvi alguém mencionar um corte entre as reuniões”, disse.

El-Erian, que já previa uma desaceleração dos EUA mais intensa do que outros economistas, considera “improvável” um primeiro corte de juros de 50 pontos-base. Crítico da demora que o Fed levou para reconhecer o problema da inflação nos EUA, alerta que o Fed não pode errar mais após não ter reduzido os juros na reunião desta semana, como ele próprio defendia.

Antes dos dados sobre o mercado de trabalho, ontem, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que uma redução de 0,5 ponto porcentual não estaria na mesa dos dirigentes naquele momento. “Não quero dizer, não quero ser realmente específico sobre o que faremos, mas não é algo em que estamos pensando agora”, afirmou ele, a jornalistas, nesta semana.

Chances de uma primeira queda maior em setembro, de 0,5 ponto porcentual, passaram de 80%

REGRA DE SAHM. O dados do emprego de julho também acenderam o alerta quanto ao risco de acionamento da chamada regra de Sahm, um indicador de recessão com base no mercado de trabalho.

Cunhado pela economista Claudia Sahm, o modelo indica que uma economia está em recessão se a taxa de desemprego subir 0,5 ponto porcentual ou mais na média de três meses sobre o mínimo registrado nos 12 meses anteriores.

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20240803/page/35/textview