‘China é uma das grandes preocupações’ para a indústria do Brasil com Trump, diz CEO da Gerdau

‘China é uma das grandes preocupações’ para a indústria do Brasil com Trump, diz CEO da Gerdau

Executivo defende a necessidade de medidas mais duras contra o país asiático, após as cotas de importação adotadas no ano passado não terem contido o avanço do aço chinês no Brasil

DAVOS – A deterioração nas relações entre os Estados Unidos e a China na gestão do presidente Donald Trump é uma das principais preocupações da Gerdau no cenário atual. Se, de um lado, a gestão republicana dá um “otimismo moderado” à medida que são benéficas para a operação da companhia no mercado americano; do outro, políticas mais duras podem fazer os chineses buscarem outros mercados para exportação, e o Brasil é um dos alvos.

“Essa é uma das grandes preocupações que nós temos. Porque, quanto mais os países se fecham, a necessidade da China para manter emprego e renda aumenta, e o país vai buscar mercados de exportação, os canais mais abertos”, diz o presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, em entrevista ao Estadão/Broadcast, durante o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), em Davos, na Suíça. O problema, explica, é que o mundo está se estruturando contra a concorrência chinesa, mas o Brasil “está ficando para trás”.

Segundo ele, esse é o principal tema em debate com o governo federal e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O executivo defende a necessidade de medidas mais duras contra a China, após as cotas de importação adotadas no ano passado não terem contido o avanço do aço chinês no País.

“Essa medida foi totalmente ineficaz. Não se reduziu a importação de aço. Estamos neste momento debatendo com o MDIC como endurecer um pouco mais”, revela o executivo. “Os debates já estão na mesa. A expectativa agora é de que eles (o governo) tragam uma solução. Agora, a bola está com eles”, acrescenta.

Werneck diz que a empresa não quer medidas de proteção nem nada que esteja desalinhado com as práticas da Organização Mundial do Comércio (OMC), mas uma ação de defesa à indústria nacional. Uma solução é acabar com as cotas e taxar todo o aço que entrar no Brasil, sugere. No ano passado, o governo elevou para 25% o imposto de importação para aços que ultrapassem as cotas no País.

Atualmente, a China responde por cerca de um quarto do aço que entra no Brasil. Na visão de Werneck, a situação vai piorar com Trump de volta à Casa Branca. “Vai piorar para o aço, para produtos químicos, para tudo que a China compete de forma desleal contra a indústria global”, prevê.

O executivo também se queixa de “portas abertas” para pagar menos impostos no Brasil, a exemplo da Zona Franca de Manaus. Ele questiona se, de fato, todo o aço que tem entrado no País está sendo processado no local ou está servindo de “subterfúgio” para o menor pagamento de impostos.

Apesar dos desafios listados por Werneck, a Gerdau decidiu manter o seu plano de investimentos de cerca de R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões por ano no Brasil. Em 2024, a companhia chegou a ameaçar reduzir esse montante caso o governo federal não agisse para barrar a concorrência chinesa.

O governo, então, implementou as cotas, e a Gerdau decidiu manter o compromisso. Mas, Werneck diz que a companhia pode voltar atrás caso medidas mais duras não sejam adotadas para combater a entrada de aço chinês no País.

Dentre os produtos da China que o Brasil mais importa, está a bobina de aço laminada a quente (HRC), utilizada para os setores de construção, automóveis e máquinas. É justamente neste produto que a Gerdau está aumentando a sua capacidade, com um adicional de 250 mil toneladas, a partir da segunda quinzena de março, antecipa Werneck.

‘Otimismo moderado’ com o Efeito Trump

Sobre o efeito da gestão Trump nas operações da Gerdau nos EUA, o executivo diz que tem um “otimismo moderado”. Na primeira gestão do republicano, o negócio da companhia “foi bem”, conforme ele. Como a Gerdau produz em território americano, o aumento de tarifas para outros países beneficia a companhia. Os planos de Trump de estimular a indústria de óleo e gás também são benéficos, diz.

“Quanto mais ele (Trump) fortalecer a indústria americana e impedir a entrada de aço desleal, a competição desleal, melhor para nós”, avalia Werneck. “Temos um otimismo moderado”, classifica.

Já quanto à estratégia da Gerdau do México, os planos estão em compasso de espera com a volta de Trump à Casa Branca. A companhia estuda investir US$ 600 milhões em uma usina de produção de aços especiais no país. A decisão, esperada para dezembro último, deve ser tomada apenas daqui a seis meses, conforme o CEO da Gerdau.

“A gente vai aguardar um pouco esse desenrolar da relação EUA e México. Estamos postergando a decisão final para o meio do ano”, diz Werneck. Para o Brasil, a administração Trump deve ter efeito neutro, na sua visão. “Vai continuar o arroz com feijão que sempre foi nas relações comerciais”.

Segundo ele, o foco da Gerdau em 2025 é um olhar interno e uma busca contínua por melhoria da competitividade, de olho em um possível avanço dos competidores chineses no Brasil por conta de medidas comerciais mais duras de Trump. “Toda a companhia está com foco de ir para um patamar de competitividade que nunca tivemos”, conclui Werneck.

Matéria – O Estado de São Paulo – 22.01.2025
Fonte: https://www.estadao.com.br/economia/china-grande-preocupacao-para-industria-brasil-trump-ceo-gerdau/?srsltid=AfmBOopSiVxDkAOmZ0_AjyI_d_c8W2NLYL0yxk8Ea57mOglRNRDuNagV

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