Por que a venda de ferramentas manuais está em alta?
(30/08/2020) – Na mais recente reunião virtual da ABFA/Sinafer (entidades que reúnem as indústrias de ferramentas nacionais), um dos assuntos que mais atraíram a atenção dos participantes foi o aumento das vendas no segmento de ferramentas manuais em meio à pandemia de Covid-19. Diferentemente da maioria dos ramos abrigados nas duas entidades (ferramentas de corte, artefatos metálicos, usinagem etc.), os fabricantes de ferramentas manuais, como Stanley Black & Decker, Starrett e Gedore, estão registrando crescimento no volume de negócios em 2020.
“Houve uma diminuição momentânea, logo após o início da pandemia, seguida de um retorno moderado em maio e logo depois uma aceleração causada pela necessidade de se repor os estoques das lojas que haviam ficado abaixo do normal no período da pandemia”, informa Cristiano Zwiener, diretor Comercial da Stanley Black&Decker do Brasil.
Na avaliação de Zwiener, vários fatores contribuíram para o desempenho positivo. Entre eles, destaca que milhares de trabalhadores foram colocados em regime de home office, o que motivou muitos deles a buscar mais conforto para trabalhar no ambiente doméstico, trocando mobiliário, iluminação e decoração. Ao mesmo tempo, muitos outros perderam seus empregos com carteira assinada e foram obrigados a buscar outras formas de renda, passando, por exemplo, a prestar serviços de reparo e manutenção. Além disso, muitos comerciantes aproveitaram o fechamento de suas lojas para reformar o estabelecimento e reabrir com novo layout e decoração.
Outro fator a se levar em conta é que, em muitos estados, as lojas de material de construção foram consideradas serviços essenciais e não foram obrigadas a fechar. Em outros estados, como São Paulo, foram uma das primeiras atividades comerciais a ter permissão para reabrir as portas. “Estima-se que existam 120 mil pontos de venda de materiais de construção em todo o País”, aponta Christian Arntsen, presidente da ABFA e da Starrett.
Arntsen conta que clientes da empresa, como as grandes home centers, atribuem parte do crescimento verificado nos últimos meses ao auxílio emergencial pago pelo governo a mais de 50 milhões de brasileiros. “Parte desse dinheiro, parte dos 600 reais, foi para pequenas reformas”, diz.
O executivo ressalta que o aumento das vendas de ferramentas manuais durante a pandemia não é um fenômeno brasileiro. “No Brasil foi mais forte que em outros mercados, como o europeu e o norte-americano, mas é um fenômeno mundial. Como vice-presidente de Operações Internacionais da Starrett tenho tido contato com várias outras filiais e em alguns países, como Nova Zelândia e Austrália [países onde os governos bancaram 80% dos salários dos trabalhadores durante o lockdown], as vendas tiveram forte incremento, de até 30% na comparação com o mesmo período do ano passado”, conta. Em sua avaliação, no Brasil as vendas estão cerca de 10% acima.
Para Zwiener, como o home office produziu bons resultados, a tendência é que seja mantido ao menos parcialmente, o que deve manter os negócios de ferramentas manuais aquecidos. O diretor também avalia que as linhas profissionais e industriais da empresa, Stanley e DeWalt também manterão seus crescimentos. “Grandes projetos industriais estão sendo construídos no país em várias frentes, como no agronegócio, energia elétrica, saneamento até na indústria metalúrgica”, afirma.
Já Arntsen avalia que não é possível prever se haverá manutenção deste crescimento. “Enquanto houver o auxílio emergencial, pode-se dizer que sim. O que todo mundo se pergunta é o que acontecerá quando essa ajuda governamental for encerrada ou reduzida”, observa.
Ele frisa que o gráfico da “produção industrial brasileira até aqui está apresentando uma curva em V, mas já se fala em uma curva em W… A verdade é que não dá para fazer previsões”, diz. “O que temos conversado internamente é que é preciso ser ágil e reagir rápido ao que venha a acontecer. Ficar de olho nos indicadores que temos na mão, como os que mostram o que o meu distribuidor está vendendo na ponta”.
FONTE: http://www.usinagem-brasil.com.br/15425-por-que-a-venda-de-ferramentas-manuais-esta-em-alta/pa-1/