Falta indústria na balança comercial

Falta indústria na balança comercial

Sucessivos desempenhos positivos da balança comercial projetam para 2023 superávit recorde de US$ 93 bilhões, estimativa tanto do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) quanto da

Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). De janeiro a setembro, o saldo de US$ 71,31 bilhões já é 16% superior ao registrado em todo o ano de 2022.

A expressiva exportação de commodities agrícolas e minerais fará do resultado do comércio exterior a melhor notícia da economia neste ano, apesar de os preços de alguns importantes produtos, como soja e milho, estarem mais baixos do que no ano passado, como mostrou reportagem do Estadão. O saldo ajudará a empurrar para cima o Produto Interno Bruto (PIB).

No boletim Visão Geral da Conjuntura de setembro, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para cima sua expectativa de alta do PIB, de 2,3% para 3,3%. Além do forte desempenho agropecuário, que estima crescer em 15,5%, o prognóstico tem grande influência da alta das exportações, que se situa em 8,5%, e da queda de 0,5% das importações.

E aí está o ponto de divergência entre governo e exportadores. Enquanto o vice-presidente Geraldo Alckmin, titular do MDIC, usou as redes sociais para classificar o superávit comercial como uma “notícia triplamente positiva” por contribuir para o crescimento econômico, a inovação e a geração de empregos, José Augusto de Castro, presidente da associação de comércio exterior, destacou o caráter negativo do resultado por ser fortemente influenciado pela redução das importações, e não exatamente pelo aumento da atividade.

Há, de fato, no monitoramento dos dados, um importante sinal de alerta a ser observado pelo governo. Ainda que o desempenho extraordinário do agro esteja sendo ditado pela competitividade alcançada pelo setor, o escoamento da produção no mercado internacional tem sido muito beneficiado pelos baques sofridos por concorrentes que tiveram colheitas atingidas por problemas climáticos, como Estados Unidos e Argentina.

O Brasil, que passa, na cultura agrícola, razoavelmente ileso aos prejuízos da crise climática, deve produzir neste ano mais de 300 milhões de toneladas de grãos, outro recorde. É essa supersafra que vem sustentando o bom resultado das vendas, que poderia ser melhor, se os preços continuassem no mesmo ritmo de 2022. Mas, pelo menos, mantêm-se em nível superior ao de antes da pandemia.

A questão, também destacada no boletim do Ipea, é a queda dos investimentos do setor produtivo, destacados pela rubrica Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). A projeção é que, neste ano, o resultado seja 2,1% menor do que o pífio avanço de 0,9% de 2022. O pior é que a queda tem sido constatada especialmente no setor de máquinas e equipamentos, o principal indicador da atividade industrial. Aí está a essência do problema.

A indústria, que respondia por quase 50% das exportações nos anos 2000, não chega a bater 30% atualmente. A agropecuária tem dado suporte fundamental à economia, mas sem a indústria o PIB brasileiro não conseguirá se firmar.l

Superávit comercial contribuirá para aumento do PIB, mas dados embutem sinal de alerta

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20231010/textview