Brasil deve fechar o ano com superávit comercial recorde
O resultado se deve à combinação de aumento do volume exportado com a alta dos preços das commodities em que o Brasil se tornou grande exportador, como produtos agrícolas, minério de ferro e petróleo.
A combinação entre o aumento do volume exportado e os preços de commodities em alta vai fazer com que o Brasil colha mais um resultado recorde na balança comercial neste ano. Nas contas de bancos e consultorias, o superávit comercial do País em 2023 deve superar os U$S 80 bilhões, podendo chegar ao patamar de US$ 90 bilhões.
A força da balança comercial se transformou na grande notícia positiva da economia neste ano. As projeções para o superávit têm sido revisadas com frequência e revelaram uma conjuntura bem mais positiva do que se esperava. No meio deste ano, a expectativa era de US$ 70 bilhões de superávit.
Na virada de 2022 para 2023, a leitura dos economistas era a de que o mundo deveria enfrentar uma importante desaceleração da atividade econômica, o que poderia afetar a demanda dos países por produtos. Uma recessão nas principais economias sempre esteve no radar, mas esse cenário não se confirmou.
“O melhor ano da história da balança comercial será em 2023. O resultado está vindo muito forte”, diz Julia Passabom, economista do Itaú.
O Brasil é um grande exportador de produtos básicos e tem sido ajudado pelos bons preços de soja, petróleo, minério de ferro e milho no mercado internacional. “O País se beneficiou de preços em patamares elevados e de uma safra enorme”, afirma Myriã Bast, economista do Bradesco.
Além da supersafra de grãos e dos preços altos, seca na Argentina também favoreceu as exportações
De acordo com dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE), a safra brasileira de grãos deve somar 313,3 milhões de toneladas, um resultado 19% maior do que o observado em 2022. Para este ano, o Bradesco prevê um superávit de US$ 90 bilhões e US$ 350 bilhões em exportações – o que, se confirmado, também será um nível recorde.
CLIMA. Nas vendas para o exterior, o País ainda tem se beneficiado de alguns fatores pontuais. A seca na Argentina, por exemplo, permitiu que os produtores brasileiros de soja exportassem mais para o país vizinho. “A seca argentina foi muito forte, e a soja acabou se tornando um dos principais produtos exportados pelo Brasil. A guerra entre Rússia e Ucrânia continua afetando dois grandes exportadores de grãos”, diz Lia Valls Pereira, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
O saldo comercial robusto também tem a ver com a queda nas importações, decorrente dos preços mais baixos de produtos comprados pelo País e da perda de dinamismo da economia local neste segundo semestre. “Em geral, uma atividade mais fraca resultada numa importação menor”, diz Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter.l
Os números de 2023 da balança comercial reforçam um cenário já conhecido da economia brasileira nos últimos anos. Desde a reabertura da economia global, depois de superada a pior fase da pandemia de covid, o Brasil tem se beneficiado da alta de preços das commodities por ser um grande exportador desses itens.
Com os incentivos fiscais concedidos por inúmeros governos ao redor do mundo, a retomada da economia global foi mais rápida do que o esperado, contribuindo para o forte aumento das cotações de produtos exportados pelo Brasil.
No ano passado, quando os preços atingiram um nível recorde, a economia brasileira registrou o maior superávit reportado até então. O saldo foi de US$ 61,5 bilhões, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços.
“Em 2022, as commodities alcançaram o seu pico. Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o preço do barril de petróleo passou de US$ 100 dólares, a parte de grãos também fechou mais alta impactada pelo conflito”, diz Julia, do Itaú.
COMÉRCIO E SERVIÇOS. Os preços dos produtos estão mais baixos este ano, mas ainda bem superiores ao observado antes da pandemia. De 2019 até o mês passado, o preço do barril de petróleo do tipo brent saltou de US$ 64 para US$ 91, um aumento de 42%, de acordo com um monitoramento realizado pelo Itaú.
A tonelada do ferro subiu 31%, e a cotação da soja e do milho avançaram 46% e 25%, respectivamente, no período.
A manutenção de preços em patamares elevados será fundamental para o Brasil continuar tendo um bom desempenho nas vendas internacionais. Para 2024, a expectativa de parte dos analistas é de que o superávit da balança comercial seja menor do que o registrado neste ano, mas seguirá bastante robusto quando se olha para o histórico da corrente de comércio do País.
“Ainda será um resultado bom perto do que foi o de 2021 e 2022. O nível médio de preços das commodities, ainda que mais baixo, acaba ajudando”, diz Julia Nas contas do Itaú, o saldo comercial deve chegar a US$ 80 bilhões este ano, recuando par a US$ 60 bilhões em 2024.
PIORA DE CENÁRIO. No ano que vem, a expectativa é de que a desaceleração global, enfim, possa chegar, o que afetaria as exportações brasileiras. Nas últimas semanas, houve uma piora nos Estados Unidos, com o cenário fiscal bastante conturbado e a indicação de que o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) pode promover aumentos adicionais nas taxas de juros e deixálas num patamar elevado por mais tempo.
“Esse cenário nos EUA volta a colocar no radar uma recessão mais forte no próximo ano, e isso pode impactar preços de commodities”, afirma Rafaela Vitória, economistachefe do banco Inter.
Do lado das importações, a perspectiva de crescimento da economia brasileira também deve contribuir para um saldo comercial menor. “O nosso crescimento para o PIB doméstico no ano que vem é de 2%”, afirma Myriã Bast, economista do Bradesco.
“A gente sai deste ano sem carrego. Isso quer dizer que vamos acelerar o crescimento no ano que vem e, por isso, devemos aumentar a importação e tem um saldo um pouco menor”, acrescentou a economista do Bradesco, que estima um superávit comercial de US$ 70 bilhões em 2024.
FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20231009/page/25/textview