Setores afetados por tarifaço dos EUA tentam ampliar lista de isenções
Os setores econômicos brasileiros que não foram contemplados pelo recuo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no tarifaço, mantêm a esperança de que possam entrar no grupo dos produtos isentos da tarifa adicional de 40%. Em geral, eles destacam que houve avanço na relação entre os dois países e pedem que o governo brasileiro siga tratando do tema com os americanos. Analistas, no entanto, apontam que as negociações não deverão ser fáceis.
Na quinta-feira, Trump assinou decreto que amplia a lista de exceções ao tarifaço contra o Brasil, incluindo café, carne bovina e frutas. Ficaram de fora máquinas e equipamentos, calçados, pescados, mel, algumas frutas e madeira.
“Daqui para frente, não há uma perspectiva organizada de negociação. Vai ser muito em função dos lobbies industriais americanos, que querem proteção, versus os lobbies dos segmentos consumidores, que podem ser indústrias que utilizam
insumos ou consumidores finais, e que percebem os produtos com preços mais elevados”, afirma Livio Ribeiro, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
“A população média começa a perceber que a produção não é imediata, o emprego não chega como estava prometido, e quem paga a conta é ela. Isso vai diminuindo o apoio que os setores menos radicais da sociedade americana dão para essa agenda de proteção em torno do tarifaço”, acrescenta.
A tarifa adicional foi imposta em julho e se somou à alíquota recíproca de 10%, elevando a taxação total a 50%. À época, no entanto, o governo dos EUA já havia anunciado uma lista de quase 700 exceções. Na semana passada, Trump assinou decreto retirando a tarifa recíproca de 10% sobre a importação de produtos como carne bovina, banana, café e tomate.
“A negociação já seria difícil e continua difícil pela complexidade dos temas bilaterais que terão de ser tratados”, diz Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.
UVA DE FORA. No setor de frutas, o fim da tarifa adicional foi comemorado. Manga, melão, melancia, mamão papaia e frutas processadas (que excluem os sucos) passaram para a lista de exceções. A ausência foi da uva. “Estamos felizes com essa ordem executiva (decreto) do Trump, mas a nossa felicidade não está completa porque a uva ficou de fora”, afirma Eduardo Brandão, diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).
Em 2024, os EUA representaram 12% das exportações. As vendas de uva para os americanos somaram US$ 41,5 milhões. “As justificativas para o caso da uva são de que os EUA são um grande produtor de uva de mesa e estão prevendo uma supersafra”, diz Brandão. “Deve haver um momento em que haverá uma queda de produção e aí entendemos que podem voltar atrás.”
MÁQUINAS. O setor de máquinas e equipamentos também vê com otimismo esse avanço dos EUA em relação aos produtos brasileiros. “É um passo na melhora das relações entre os Estados Unidos e o Brasil”, afirma José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Se, por um lado, estamos otimistas com esse avanço, por outro, estamos na expectativa de haver uma trégua (das tarifas) durante as negociações.”
Em outubro, as exportações de máquinas para os EUA caíram 31,6% em relação a setembro. Na comparação com outubro do ano passado, a queda foi de 42,5%. Como consequência, a participação dos EUA na pauta exportadora do setor recuou para 13% – até agosto, respondia por cerca de 25%.
O superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Paulo Pupo, enxerga “um início de normalização” na relação entre os dois países, mas avalia que é preciso intensificar as negociações. “Há um distensionamento político, e isso é fundamental para que a mesa de negociação efetivamente aconteça.”
O setor tem sido duramente afetado pelo tarifaço. Na média, os EUA consomem 50% de tudo o que o País exporta – muitos produtos têm uma exposição de 100% ao mercado americano, como é o caso das molduras de madeira, que foram concebidas exclusivamente para os EUA. “Tivemos queda média de 55% nas nossas exportações desde o tarifaço.”
Procurada pelo Estadão, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) afirmou que os novos anúncios do governo dos EUA são positivos e ajudam nas negociações. A entidade também informou que o setor de calçados segue na pauta de negociação do governo brasileiro.
Os EUA são o principal destino das exportações de calçados brasileiros. Entre janeiro e outubro, foram vendidos 8,936 milhões de pares para os americanos, acima do apurado no mesmo período do ano passado (8,324 milhões).
No setor de pescados, a avaliação é de que o “governo brasileiro não tem priorizado a pauta de pescados”. Em nota, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), Eduardo Lobo, disse que o “sentimento entre as empresas do setor é de frustração”. Segundo a entidade, cerca de US$ 300 milhões são exportados para os EUA. •
À espera
Setores de máquinas, calçados, pescados e de madeiras ainda aguardam redução.
FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20251122/page/22/textview
