Mercado já vê PIB de até 3% no ano e maior pressão sobre taxa de juros
Dados do IBGE mostram que ritmo de crescimento da economia superou previsões e avançou 1,4% no segundo trimestre; Haddad destaca fôlego da indústria
Impulsionado pelos setores da indústria e de serviços, a economia brasileira continuou a mostrar força no segundo trimestre, com desempenho acima do esperado pelos analistas. O Produto Interno Bruto (PIB) avançou 1,4% na comparação com os três primeiros meses deste ano e 3,3% ante o segundo trimestre de 2023. A mediana das projeções para a variação entre abril e junho era de 0,9%, segundo pesquisa do Projeções Broadcast.
Divulgado ontem pelo IBGE, o resultado levou a uma revisão de estimativas para o PIB no ano. Instituições como Citi e Goldman Sachs passaram a prever variação de até 3%. No BTG Pactual, a projeção passou de 2,4% para 2,7%, enquanto no Bradesco subiu de 2,3% para 2,6%. O Itaú fala em viés de alta para sua estimativa de 2,5%.
Por outro lado, o crescimento mais forte deve colocar mais pressão sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que volta a se reunir neste mês para definir a nova taxa básica de juros. Com o ritmo do PIB mais forte do que o esperado e as projeções de inflação já distantes do centro da meta de 3%, os economistas afirmam que a tendência é de que o BC procure “esfriar” um pouco a economia, para que a inflação não fuja do controle.
“Isso vai demandar um esforço de decisão do BC. Provavelmente em torno de uma alta da Selic mais forte do que se imaginava”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB, citando ainda o impacto na inflação nos próximos meses com a mudança de bandeira tarifária de energia, para vermelha (o que implicará cobrança de taxa extra sobre as contas de luz). “Hoje, a preocupação é a dosagem do crescimento econômico sem inflação”, diz Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências. “O mercado de trabalho está apertado, os setores estão reportando falta de mão de obra, os salários têm subido bastante e saiu de cena a deflação de bens. Estamos num contexto de mais dificuldade de garantia de que a tal da última milha na inflação ocorra.”
Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, será o investimento que irá garantir o crescimento da economia com baixa inflação. “A indústria voltou forte, a FBCF (formação bruta de capital fixo, indicador da taxa de investimento) está correspondendo, veio acima das projeções, o que significa mais investimento. Temos de olhar muito para investimento porque é ele que garantirá crescimento com baixa inflação”, disse ele.
FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20240904/textview