Apesar das pressões de alta, Fazenda não vê a inflação fora da meta

Apesar das pressões de alta, Fazenda não vê a inflação fora da meta

Com as apostas de alta da taxa Selic cada vez mais consolidadas no mercado, a equipe econômica mantém o tom discreto adotado publicamente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nos últimos dias, e evita comentar qual deve ser a conduta do Banco Central.

Os integrantes da pasta, por sua vez, se mantêm firmes na avaliação de que a inflação fechará o ano dentro da meta, de 3%, com teto de 4,5%. A previsão foi reforçada ao Estadão/Broadcast pelo secretário de Política Econômica da Fazenda, Guilherme Mello, após a mediana para a Selic no fim de 2024 disparar 0,75 ponto porcentual, de acordo com o Boletim Focus divulgado ontem, passando de 10,5% para 11,25%.

“Quem decide política de juros é o BC. Nosso cenário segue sendo de inflação dentro da meta e em desaceleração neste ano e nos próximos”, disse Mello ao ser questionado se a Fazenda via fundamento técnico nessa aposta do mercado. No caso do IPCA para este ano, a mediana do Focus subiu pela oitava semana consecutiva, de 4,26% para 4,30%, aproximando-se do teto de 4,50%.

As projeções do mercado se distanciam cada vez mais da previsão oficial da Fazenda, que em seu último relatório de projeções macroeconômicas, publicado em julho, já havia alterado de 3,7% para 3,9% a estimativa para o IPCA neste ano. A Fazenda terá a oportunidade de revisar ou não este dado este mês, quando lançar o novo relatório de projeções.

‘DESELEGANTE’. Segundo as estimativas do Focus, a Selic deve ter três altas ainda este ano: indo a 10,75% já na próxima reunião, de 18 de setembro, passando a 11% em 6 de novembro e a 11,25% em 11 de dezembro. O debate sobre quais devem ser os próximos passos do BC coloca a Fazenda numa posição difícil diante do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente o BC e seu presidente, Roberto Campos Neto, antes do início dos cortes na taxa básica. A situação é mais delicada desta vez, porque partiu do indicado do presidente para o comando da autarquia, Gabriel Galípolo, as primeiras indicações de que o BC poderia elevar a Selic para colocar a inflação na meta.

Haddad tem tentando se manter distante da discussão. Na semana passada, em entrevista à GloboNews, ele disse que seria “deselegante” opinar sobre o que o BC deve fazer. “Confio muito na capacidade técnica das pessoas que estão à frente do BC”, esquivou-se. •

Fazenda divulga neste mês nova versão de seu relatório de projeções macroeconômicas

FONTE: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/20240910/page/21/textview