Investimentos e indústria têm 1ª alta após 4 anos

Investimentos e indústria têm 1ª alta após 4 anos

Com empregos criados e mais investimentos, o setor produtivo foi o último a reagir, mas continua longe de recuperar o vigor de antes da crise.

Mesmo após um quarto trimestre ruim, a indústria brasileira conseguiu crescer pelo primeiro ano desde o início da recessão – e foi o último setor a sair da crise iniciada em 2014, depois de agronegócios e serviços.

De acordo com os dados divulgados nesta quinta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria ‘encolheu’ 0,3% no 4º trimestre, na comparação com os três meses anteriores. No ano, no entanto, o setor fechou com alta de 0,6% – o primeiro resultado anual positivo desde 2013.

O mau desempenho do setor no último trimestre foi puxado pela indústria de transformação (que produz a partir de matérias-primas), que recuou 1% frente ao trimestre anterior, gerando um forte descompasso com o setor de serviços, que acelerou no período.

Mais empregos e capacidade instalada
O setor produtivo obteve alguns méritos em 2018. Entre altos e baixos, conseguiu gerar empregos – ainda que apenas 0,2% na comparação com 2017 – e aumentou sua capacidade média instalada, também em 0,2%, de acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Outro dado positivo foi o crescimento de 1% da produção em 2018, além do faturamento da indústria, que avançou em média 4,1%. Por outro lado, as condições financeiras das empresas pioraram no quarto trimestre. Segundo a CNI, o índice de satisfação com o lucro operacional caiu 0,8 ponto (para 42,0 pontos) em relação ao mesmo período de 2017.

Para o analista da Tendências Consultoria, Thiago Xavier, a indústria saiu da crise no momento em que deixou de apresentar dados negativos de forma persistente, embora a retomada seja tímida, diante de uma base muito frágil. “Melhorou, mas está longe de reverter a queda acumulada na recessão”.

Construção civil ainda em crise
O que ainda segura a indústria é o mau desempenho da construção civil, que vem caindo há cinco anos, segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca de La Roque Pallis. Em 2018, ela retraiu 2,5%.

“São ‘N’ motivos que levaram a construção a acumular todas essas perdas. Uns deles foi a parte da infraestrutura e a parte governamental. O dinheiro do governo é o que mais banca a infraestrutura. E a gente sabe que os três níveis de governo estão tentando segurar as suas contas. Investimento, como não é uma despesa obrigatória, é o primeiro a ser cortado”, diz.

Ano difícil para o setor produtivo
A melhora nos indicadores da indústria não poupou o setor de um ano particularmente difícil. Imprevistos como a greve dos caminhoneiros atrapalharam a retomada, abalando a cadeia produtiva e os índices de confiança dos empresários. No segundo semestre, as incertezas eleitorais frearam os investimentos.

Para piorar, a crise na Argentina prejudicou a exportação de produtos manufaturados do Brasil, que tem o país vizinho como seu principal parceiro comercial nesta categoria, que se estende bem além dos automóveis.

Não fosse o bom desempenho dos produtos primários, como a soja e outras commodities, o superávit da balança comercial brasileira teria sido bem inferior aos US$ 58 bilhões em 2018.

“Havia uma expectativa de que a economia fosse crescer mais, mas uma série de choques negativos acabou fragilizando a indústria em 2018”, observa Xavier, da Tendências.
A saída da crise na indústria foi marcada por um ritmo de recuperação ainda mais lento que nos demais setores, que também demoraram para reagir. O setor produtivo foi o último a voltar a crescer, atrás de serviços e agronegócio.

“Enquanto o consumo já havia crescido em 2017 e vem acelerando, o crescimento da indústria veio mais tarde, já que no ciclo econômico as famílias tendem a reagir mais rápido a essa retomada”, aponta Xavier.

“Poderíamos ter crescido mais, não fosse a greve dos caminhoneiros e o impacto da operação Carne Fraca”, disse o presidente da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), Wilson Mello.
A paralisação de 11 dias dos caminhoneiros, no fim de maio, desarticulou o fornecimento de matérias-primas e prejudicou a produção, especialmente nos setores que dependem de produtos perecíveis, como o ramo alimentício. Já a Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em 2017, desmontou frigoríficos e teve reflexos negativos no ano seguinte.

A queda nos preços do açúcar também impactou negativamente a indústria de alimentos, que viu uma queda de 9,8% nas exportações em 2018. Foi o consumo interno que sustentou o setor, absorvendo cerca de 80% das vendas da indústria alimentícia.

Para o presidente da Abia, sem os eventos extraordinários de 2018, a expectativa é de que a indústria de alimentos cresça mais em 2019, favorecida pelo bom momento do agronegócio, a grande fonte de matérias-primas do setor.

Segundo Mello, o setor saiu da crise no último trimestre do ano passado, após três anos de queda na produção e maior ociosidade fabril, impactados pela crise econômica no país. Para ele, a retomada do setor tende a ser mais rápida que em outros.

“Isso porque nossa indústria tem uma capacidade instalada ociosa muito grande e abundância de matérias-primas, em virtude da perda de produção nos últimos anos”, destaca Mello.

Expectativas positivas
Em meio à perspectiva de reformas e aceleração do crescimento, o setor vê 2019 com otimismo. A confiança da indústria registrou em fevereiro o maior nível desde agosto de 2018, apontou a Fundação Getulio Vargas/Ibre.

Os índices de expectativa de demanda, compras de matérias-primas e quantidade exportada ficaram bem acima dos 50 pontos, indicando otimismo dos empresários, segundo dados da CNI.

Contudo, resquícios da crise ainda geram preocupações, especialmente os bens manufaturados, que devem sofrer com a crise persistente na Argentina, alertaram pesquisados da FGV/Ibre no Boletim Macro de fevereiro.

FONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/02/28/industria-decepciona-no-4o-trimestre-mas-tem-1o-ano-positivo-desde-a-crise.ghtml

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