Liberação de cargas supera 20 dias; empresas cobram Guedes

Liberação de cargas supera 20 dias; empresas cobram Guedes

Operação-padrão na Receita trava importações em aduanas

Do preço do pão francês à falta de sabão em pó e amaciante nos supermercados, o consumidor poderá sentir em breve os efeitos da lentidão no desembaraço de cargas importadas por causa da operação-padrão dos auditores da Receita. Desde o fim de 2021, servidores pressionam o governo a recompor o orçamento do órgão e regulamentar um bônus de eficiência. Cargas estão paradas nos portos e aeroportos há quase 3 meses. O tempo médio para liberação passou de 5 para 20 dias. Empresas entregam hoje ao ministro Paulo Guedes (Economia) carta pedindo que a situação seja tratada com “seriedade”.

“O comércio internacional está de mãos atadas”

Leandro Barcellos, do Instituto Brasileiro de Comércio Internacional e Investimento

Cargas paradas nos portos há quase três meses. Navios sem espaço para desembarcar mercadorias. A operação-padrão dos auditores da Receita Federal tem travado a importação de insumos e prejudicado a produção de itens que vão do pão ao sabão em pó. Levantamento do Instituto Brasileiro de Comércio Internacional e Investimento (IBCI) mostra que o movimento elevou de cinco para 20 dias o prazo médio para desembaraço de cargas importadas via portos e aeroportos. Os dados estão em carta a ser encaminhada hoje ao ministro da Economia, Paulo Guedes, obtida pelo Estadão/broadcast.

Apoiado por multinacionais como Nestlé (alimentos e bebidas) e Unilever (alimentos e produtos de higiene), o documento pede que a situação seja tratada “com a devida seriedade” e resolvida para evitar um “efeito dominó” na economia. Também assinam a carta empresas como General Mills (alimentos), Dow (químicos) e Sylvamo (papel) e entidades de setores que incluem higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (Abihpec), café solúvel (Abics) e limpeza (Abipla).

“Todo o setor de comércio internacional está de mãos atadas. Nossa intenção com a carta é trazer para o ministro uma situação que afeta todos os setores, fábricas e plantas, e que pedimos que seja resolvida da forma mais breve possível”, disse o coordenador do instituto, Leandro Barcellos.

Desde o fim do ano, servidores do Fisco fazem paralisações e seguram cargas para pressionar o governo a recompor o orçamento do órgão e regulamentar um bônus de eficiência. O movimento teve início após o presidente Jair Bolsonaro prometer reajustar o salário de policiais federais, o que desencadeou também protestos de outras categorias.

Procurada, a Receita Federal não se manifestou. •

A demora da Receita Federal em liberar cargas importadas pode levar a um aumento do preço do pão francês e fazer faltar nas prateleiras sabão em pó e amaciante. Diversos setores da economia dizem estar sendo prejudicados pelo movimento dos auditores fiscais, entre eles os de alimentos, higiene e limpeza, bens de consumo, automóveis e varejo.

De acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes (Abipla), Paulo Engler, há relatos de empresas associadas que esperam a liberação pelo Fisco de insumos que chegaram ao Brasil há meses.

Um grande fabricante de produtos de limpeza que pediu anonimato aguarda a liberação de matéria-prima há 83 dias. “Já há partes da produção paradas, parte dos reagentes, parte dos laboratórios. Estamos com receio de que poderemos ter problemas em toda a linha de produção.

O atraso está grande demais e acendeu uma luz no setor, que pode sofrer interrupção se não houver liberação rápida”, afirmou.

O vice-presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Estado de São Paulo (Sindustrigo), Christian Saigh, conta que há 38 mil toneladas estocadas em Santos (SP), o equivalente a 27% da quantidade moída em um mês no Estado de São Paulo.

Insumo para farinha de trigo, pães e massas, há cargas do grão paradas há 14 dias, segundo ele, enquanto a liberação ocorria em até 48 horas antes da operação-padrão. “Isso começa a comprometer o estoque dos moinhos. Neste momento, ainda não tem desabastecimento, mas não posso afirmar que não vai ter porque não tenho nenhuma previsão da Receita de quando a carga será liberada”, disse.

Saigh alerta que a capacidade de armazenamento nos silos está no limite e há cinco navios chegando nos próximos dias. Sem conseguir descarregar, as embarcações ficam paradas em Santos, o que causa um prejuízo de R$ 210 mil por dia aos importadores.

“Não tem como não repassar isso para os preços. Nós já vínhamos defasados, o preço do trigo aumentou 40% em função da guerra, o frete dobrou. A indústria fez o seu papel, se programou, fretou navio. Agora, precisamos de uma atenção da Receita Federal.”

‘INEVITÁVEL’.

O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sindifisco), Isac Falcão, disse que o movimento é “inevitável” diante da decisão do governo federal de cortar em 50% o orçamento da Receita neste ano.

Apesar das filas nas aduanas, ele diz que o governo segue “fechado ao diálogo”. “Dizem coisas genéricas, que entendem nossos pleitos como importantes, justos, razoáveis. Mas não dão prazo para resolver os problemas”, completou. •

FONTE: O Estado de São Paulo – 13/04/2022

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