Indústria revela projetos inovadores

Indústria revela projetos inovadores

Em meio a dados que mostram o atraso do Brasil na inserção tecnológica, um grupo de empresas se destaca no desenvolvimento local de projetos inovadores. Alguns deles têm potencial de ser referência global, como o nanosatélite criado pela Visiona (joint venture entre Embraer e Telebrás) em parceria com o Senai Cimatec.

Além de investimentos prévios em sistemas, foram gastos até agora cerca de R$ 15 milhões no projeto. Inicialmente, a intenção era usar o pequeno satélite, de 10 quilos, em testes de validação para aplicar no primeiro satélite projetado pela indústria brasileira, de médio porte (de 50 a 2 mil quilos), que também está a caminho.

“Acabou ficando tão bom que decidimos usá-lo não só para testes, mas comercialmente”, diz o presidente da Visiona, João Paulo Campos. Pela relação custo-benefício e capacidade de coletar imagens e dados, o equipamento “será um benchmark no mundo para satélites de tamanho equivalente”, diz.

Outro desenvolvimento nacional inédito é o FlatFish, minissubmarino autônomo para inspeção de dutos e equipamentos usados na exploração de petróleo e gás em águas profundas. Resultado de parceria entre as empresas Shell e Saipen (grupo italiano que montou base de técnicos no País) e o Senai Cimatec, poderá fazer inspeções diárias e identificar problemas antes que se tornem algo maior.

“Isso nos permitirá corrigir qualquer falha rapidamente”, informa Diego Russo Juliano, engenheiro de sistemas submarinos da Shell.

Segundo ele, hoje a inspeção é feita uma ou duas vezes ao ano, dependendo do equipamento. A empresa será a primeira a usar o FlatFish em campo no próximo ano e já trabalha no desenvolvimento de outros dois submarinos para averiguar cascos de navios e inspecionar a parte interna dos dutos.

Esses e vários outros projetos foram apresentados na semana passada no congresso de inovação realizado em São Paulo pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em comum, eles têm apoio financeiro da Embrapii, entidade vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que participa com um terço dos custos de desenvolvimento dos projetos selecionados. A entidade tem R$ 1,5 bilhão para esse apoio, ao longo de seis anos.

Dados da CNI mostram que, de um total de 24 setores industriais brasileiros, 14 estão muito atrasados em relação à adoção de tecnologias digitais. A maioria alega falta de recursos financeiros, excesso de regulação e burocracia. Outro estudo mostra que, em 2017 (último dado disponível), os EUA gastaram US$ 533 bilhões em P&D, enquanto a China investiu US$ 279 bilhões, o Japão US$ 202 bilhões e o Brasil US$ 20 bilhões.

Flatfish
Em desenvolvimento desde 2013, o minissubmarino autônomo Flatfish, na versão conceito, atua em uma profundidade de até 300 metros para inspecionar tubulações e equipamentos de uso na exploração marítima de petróleo. A versão oficial, que já está a caminho, poderá operar a mais de 3 mil metros de profundidade, informa Diego Russo Juliano, engenheiro da Shell. A empresa é responsável pelo projeto em parceria com o Senai Cimatec e a Saipem do Brasil. A nova versão é a que vai para o mercado no fim de 2020.

O robô ficará a maior parte do tempo em uma “garagem” subaquática ou, quando necessário, em uma plataforma ou navio. O Flatfish tem equipamentos para fotos e vídeos, inclusive com capacidade para imagens em 3D, e fará a coleta de dados. Da “garagem”, o submarino poderá transmitir as informações aos sistemas que serão acompanhados diariamente por operadores na superfície. A Saipem poderá comercializar os serviços para diversos países.

Robô Snake
Simular os movimentos de um braço, com a agilidade de uma cobra, é a missão do Robô Snake. Desenvolvido para atividades como inspeção de solda, aplicação de cola e soldagem a laser em partes de difícil acesso, o equipamento deve ser usado primeiro na linha de produção de carros. A demanda partiu da General Motors que, há três anos, procurou a Embrapii e o Instituto Senai de Inovação para a parceria. O equipamento deve ser liberado para uso comercial em dois anos.

“A novidade não é o robô, mas o mecanismo que dá agilidade para simular movimentos do braço, como ombro, cotovelo e pulso”, diz Carlos Sakuramoto, gerente de tecnologia e inovação da GM. Outro diferencial em relação a robôs similares é a maior capacidade de carga, de 15 quilos na ponta (mão). Ele pode substituir de dois a quatro robôs convencionais. Ainda não está definido o responsável pela produção, mas o Snake pode ser usado por várias empresas e a GM receberá royalties pela tecnologia. “Custa muito caro para ser exclusivo.”

Nanosatélite
O primeiro satélite feito por empresas brasileiras será lançado ao espaço em 2020 e ficará em órbita a 600 km da terra. Um satélite de grande porte, normalmente usado na área de comunicação, fica a 36 mil km. O nanosatélite, ou VCUB, é um projeto da Visiona (joint venture entre Embraer e Telebrás) e Senai Cimatec, e tem ainda a parceria da Opto Space, empresa do grupo Akaer que desenvolveu uma câmera com tecnologia inovadora no mundo para ser acoplada ao equipamento. “A imagem será como olhar de Campinas (SP) um carro estacionado no Rio de Janeiro”, compara João Paulo Campos, presidente da Visiona. A empresa foi criada em 2012 para trabalhar no desenvolvimento de satélites. O VCUB poderá monitorar desmatamentos, queimadas, além de uso meteorológico e de defesa. A Visiona já tem acordo de cooperação com a Embrapa para desenvolver sistemas inteligentes aplicados à agricultura.

Consultório portátil
Testado recentemente no atendimento de índios em uma aldeia no Paraná, o consultório odontológico portátil está em processo de certificação para lançamento. Hoje, custaria cerca de R$ 300 mil, segundo Persio Farah Serednicki, responsável pela área de vendas da Lactec, unidade da Embrapii sem fins lucrativos e autossustentável. O equipamento reúne todas as atividades necessárias para o tratamento de dentes, com exceção do Raio X. Leve, ele fica condicionado numa mala rígida e cabe no porta-malas do carro. “Além de ir a locais de difícil acesso, também serve para atender pessoas com dificuldade motora, como idosos e pacientes com Alzheimer e AVC”, diz Serednick. Para funcionar, o consultório portátil pode ser ligado ao cinzeiro do automóvel ou tomada de 127 volts. É equipado com um tablet que controla os equipamentos e teve parte do desenvolvimento patrocinado pela D’Express, empresa formada por um grupo de dentistas de Curitiba (PR).

Fontes renováveis
O grupo de perfumaria e cosméticos O Boticário está em busca de corantes naturais que não sejam derivados de animais. O objetivo é encontrar em fungos, bactérias e microalgas a matéria-prima especialmente para produtos de cor vermelha e rosa. Boa parte das empresas utilizam corantes sintéticos ou extraídos da cochonilha – inseto que, ao ser esmagado, solta um composto avermelhado. O projeto de pesquisa e desenvolvimento teve início neste ano em conjunto com a Embrapii e a Embrapa Agroenergia.

“Hoje são usadas fontes finitas, como minerais e pigmentos sintéticos e buscamos fontes renováveis”, diz Clarice Sasson, coordenadora de pesquisa e desenvolvimento de maquiagem do Boticário. Segundo ela, já há produtores que atuam nessa linha, mas em escala pequena. “Nosso desafio é encontrar novas fontes de obtenção do corante e uma produção em escala industrial viável.”

FONTE: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,industria-revela-projetos-inovadores,70002874897

 

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