Entenda a nova crise do petróleo e veja até onde pode ir a disputa entre Arábia Saudita e Rússia

Entenda a nova crise do petróleo e veja até onde pode ir a disputa entre Arábia Saudita e Rússia

Impasse marca o fim de uma parceria entre os países que estava em vigor desde 2016 e que ajudou a reequilibrar os preços do petróleo após atingirem os patamares mínimos de US$28/barril em janeiro daquele ano

A guerra de preços de petróleo desencadeada pelo embate entre Arábia Saudita e Rússia levou os preços do petróleo aos maiores tombos desde a Guerra do Golfo, em janeiro de 1991.

O contrato do petróleo Brent (referência global) para maio fechou em queda de 24,09%, cotado a US$ 34,36 por barril, e o petróleo tipo WTI (referência do mercado americano) para abril recuou 24,58%, a US$ 31,13 por barril.

A derrocada teve início após um impasse na reunião da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que é um cartel que reúne diversos países que discutem para coordenar o nível de oferta de petróleo que será levado aos mercados.

Na última semana, a Arábia Saudita, líder da Opep, propôs um corte na produção para ajustar a oferta à demanda mais baixa de combustíveis devido ao surto de coronavírus, que ameaça o crescimento das economias.

Contudo, a Rússia – que está no time dos aliados do cartel – se recusou a diminuir sua produção e, em resposta, a Arábia Saudita colocou sua produção em promoção: cortou o valor de venda do barril e deu início a um embate entre os gigantes produtores após a frustração das negociações.

O impasse marca o fim de uma parceria entre os países que estava em vigor desde 2016 e que ajudou a reequilibrar os preços do petróleo após as cotações atingirem os patamares mínimos de US$28/barril em janeiro daquele ano.

“O que aconteceu foi o pior cenário possível, porque a Opep não conseguiu elevar os cortes, que era consenso no mercado”, afirma Gabriel Fonseca, analista de energia e petróleo e gás da XP Investimentos.

Já é sabido que o “senhor mercado” não gosta de ser contrariado. As consequências desse impasse e da quebra de expectativa foram as sangrias nos preços do petróleo e das ações de petroleiras em todo o mundo.

O diretor executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, disse que “esta situação não tem precedentes na história do mercado petrolífero”, referindo-se a um “massivo excedente de oferta e choques significativos na demanda [como] principais catalisadores da crise”.

Diante das perdas no preço da commodity, várias casas já revisaram suas projeções. Os analistas do Citi, por exemplo, afirmam que os preços do petróleo do tipo Brent podem cair abaixo de US$ 30 o barril.

”É uma combinação do período pós-11 de setembro e da crise financeira de 2008-09, que foram essencialmente impulsionadas por uma menor demanda e e excesso de oferta de 2016 e períodos anteriores”, diz Michael Alsford, analista do Citi, em relatório. “Mesmo o embargo à Opep em 1973 não atingiu a oferta e a demanda”.

Os analistas do Goldman Sachs também estão no mesmo caminho e cortaram a projeção do petróleo tipo Brent para US$ 30 “com possibilidade de queda de preços, devido ao estresse de níveis operacionais e dos cortes de preços [pelos produtores], levar as cotações para perto de US$ 20 o barril”.

Combinada com o potencial choque para a demanda de petróleo devido ao coronavírus, o Goldman Sachs alerta que o cenário para o mercado de petróleo é ainda pior do que o visto em novembro de 2014.

O período marcou o início de um embate similar que levou o preço do petróleo para abaixo de US$ 30 o barril no início de 2016.

O Bank of America cortou a estimativa para os preços em 2020, estimando o preço do petróleo Brent a US$ 45 por barril e o WTI a US$ 41 por barril.

Queda de braço

Com o derretimento dos preços do petróleo, até onde Opep e aliados vão levar essa queda de braço?

Gabriel Fonseca, da XP, acredita que o forte impacto nos mercados pode motivar o retorno das renegociações entre os países que formam o cartel e seus aliados.

“É uma guerra fria. Eles precisam sentar e renegociar de novo. É mais um jogo de interesse para chegar a um acordo”, afirma Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais, destacando que os países saíram da última reunião sem nenhuma data prevista para novo encontro.

E quem aguenta levar esse cabo de guerra mais adiante? Para Bandeira, a Arábia consegue sustentar os preços mais baixos por mais tempo por ter um custo menor de extração da commodity.

Já para Fonseca, a Rússia tem mais poder de fogo nessa guerra fria por ter uma relação de dependência menor de seu petróleo com as contas públicas.

“A mais resiliente é a Rússia. Na Opep as empresas e Estados se confundem”, diz o analista da XP.

Para o sócio da área de energias e recursos naturais da KPMG, Anderson Dutra, os preços internacionais do petróleo podem até recuperar parte das perdas dos últimos pregões se Arábia Saudita e Rússia chegarem a um acordo sobre a produção, mas dificilmente a cotação do barril do tipo Brent voltará à faixa de US$ 60 e deve ficar abaixo dos patamares dos últimos anos ao longo de 2020.

Segundo Dutra, ainda é preciso esperar mais tempo para que fique claro em que patamar os preços do petróleo vão se acomodar.

“É muito cedo para fazer uma previsão de preço. O momento é de muita cautela, não só para o preço do petróleo, mas toda a dinâmica dos mercados globais”, diz Fonseca.

Para a empresa de investimentos Cantor Fitzgerald, os preços do petróleo devem se recuperar em algum momento, mas será uma trajetória difícil no curto prazo.

(Com informações do Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor)

FONTE: https://valorinveste.globo.com/mercados/internacional-e-commodities/noticia/2020/03/09/entenda-a-nova-crise-do-petroleo-e-veja-ate-onde-pode-ir-a-disputa-entre-arabia-saudita-e-russia.ghtml

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